Michael Stanton

WirelessBrasil

Ano 2000       Página Inicial (Índice)    


03/07/2000
A telefonia IP e suas conseqüências

No dia 11 de junho foi realizado em Washington, capital dos EUA, um comício para defender manter livre de controle o uso da Internet para telefonia (http://www.pulver.com/reports/helpstophr1291.html) .
O motivo imediato para a sua realização foi a aprovação por uma das câmaras do congresso norteamericano de um projeto de lei que estenderia à telefonia Internet a mesma regulamentação já feita da telefonia convencional pelo equivalente naquele país da nossa Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) (http://www.anatel.gov.br).

Historicamente, a comunicação pública por voz, ou seja, a telefonia, tem sido regulamentada por governos, e, na grande maioria dos países, foi um monopólio estatal até muito recentemente.
No caso nacional, a desestatização começou com a aprovação da Lei Geral das Telecomunicações em julho de 1997, que criou a Anatel.

A tecnologia de telefonia convencional, inventada no século passado por Alexander Graham Bell, vem sendo aprimorada desde então, mais recentemente através da introdução de comutação e transmissão digitais. Manteve-se, porém, o uso de uma rede de comunicação própria para este serviço.
Como descrito na coluna anterior sobre a convergência das redes de comunicação, a telefonia IP pode alterar esta situação, usando para a voz a mesma rede usada para dados.

A transmissão de voz na Internet (VoIP) já tem mais de 10 anos.
Com o aumento de desempenho das redes, foi demonstrada a viabilidade de transmissão de voz digital numa rede de dados, e foram desenvolvidas muitas técnicas de compressão, o que permite aumentar a capacidade de um canal de comunicação.
Para dar uma idéia: a voz digital na rede de telefonia requer uma banda de 64.000 bits/s, enquanto este mesmo sinal quando comprimido poderá ser transmitido com uma banda de menos de 6.000 bits/s, com qualidade aceitável, usando portanto menos de 10% da voz sem compressão.
Além de banda, a telefonia requer para ser viável maior desempenho da rede de dados: é necessário que seja pequeno o retardo fim a fim, de forma a não comprometer a interatividade de uma conversação.

Inicialmente a telefonia IP era realizada entre pares de computadores, equipados com kits multimídia (placa de som, microfone e alto-falantes ou fones de ouvido).
Estes telefones em software permitiam estabelecer conexões entre pares de computadores, com qualidade variável, de acordo com o grau de congestionamento da rede.
Em situações onde havia boa capacidade de transmissão, seria possível incluir também um sinal de vídeo, implementando assim a videotelefonia.
Com mais de dois participantes, resulta a teleconferência ou a videoconferência.

Não tardou para ser reconhecida a conveniência da interoperação entre a telefonia IP e a convencional.
Foi adotada pela União Internacional de Telecomunicações (ITU) a norma H.323, que define como poderá ser estendida para as redes de dados a comunicação usando telefones convencionais, através de um gateway (portal) entre a rede de telefonia e a de dados. (Para maiores informações sobre produtos disponíveis, pode ser consultado http://www.pulver.com/newvon/index.html).
Esta interoperação abre duas novas alternativas de comunicação telefônica (http://itel.mit.edu:/itel/pubs/ddc.tprc97.pdf) .

Na primeira, um dos terminais é um computador na rede de dados, e um dos usos previstos é de permitir que um usuário de um browser WWW clique num ícone para falar com o telefone de um atendente do site que ele está visitando, por exemplo, para obter maiores informações sobre produtos e serviços ali anunciados.

Na outra alternativa, ambos terminais ficam na rede de telefonia, mas a comunicação entre eles (de longa distância) passa pela Internet, usando dois gateways, próximos dos dois telefones.
Esta alternativa se mostra muito interessante para usuários e provedores de telefonia: o provedor monta uma rede IP de bom desempenho e cria gateways em locais convenientes, acessíveis através de ligações telefônicas locais.
Cobra pelo serviço interurbano ou internacional um preço geralmente inferior ao provedor convencional.
Segundo informações divulgadas recentemente por um grande fabricante de equipamentos de telefonia, o custo de aquisição e operação de serviço de telefonia IP de longa distância custa a metade da tecnologia convencional. É muito claro que estes números devem causar preocupação às empresas ex-estatais de telecomunicações, com enormes investimentos em tecnologia de telefonia convencional.

Voltando ao comício em Washington: teme-se lá que os provedores Internet sejam obrigados a monitorar o tráfego dis seus clientes, para poder reconhecer e tarifar o uso da telefonia IP.
A oposição ao projeto de lei é baseada em uma recusa a se sujeitar a este monitoramento, e também a deixar tarifar um serviço hoje prestado gratuitamente (nos EUA as chamadas locais são gratuitas).

No plano nacional, no última dia 10 de junho, um jornal paulistano noticiou que um diretor da Embratel havia denunciado o "contrabando" de até 15% das ligações internacionais do País, hoje um duopólio oficial da Embratel e da Interlig, ambas controladas por capital estrangeiro.
Foi apontado ainda que uma das formas deste "contrabando" era o uso de telefonia IP por empresas, freqüentemente nacionais, que não haviam sido aprovadas pela Anatel para prestar serviço de telefonia internacional.
Por outro lado, os preços cobrados para estes serviços "contrabandeados" estão entre a metade e um terço do preço cobrado pela Embratel. É lícito perguntar se a Anatel não deveria antecipar o fim do atual duopólio, para trazer mais cedo à população os benefícios financeiras proporcionados pelos avanços da tecnologia da telefonia?