Michael Stanton

WirelessBrasil

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19/02/2005
• A coluna Sociedade Virtual nos 10 anos do Portal Estadão na Internet

No mundo atual da alta tecnologia e especialmente da comunicação moderna, os aniversários de dez anos se sucedem com razoável freqüência. Há três anos, celebramos os dez anos da internet no Brasil, registrados num texto publicado na coluna Sociedade Virtual em 25 de abril de 2002.

Naquele texto recontei a história da introdução da internet e do seu uso no País, limitado apenas ao setor nacional de educação e pesquisa até 1995, quando se tornou um patrimônio público ao alcance de toda a sociedade por ser "bom demais para ficar restrito só à universidade". Os anos 90 eram férteis em novidades entre nós, e estamos agora podendo celebrá-los na ocasião destes aniversários.

Uma das conseqüências mais importantes da abertura geral da internet no País em 1995 foi a multiplicação de fontes alternativas de informação, e especialmente de notícias e comentários. Em retrospecto, a busca de informação através de navegadores WWW parece ter sido feita sob encomenda para as empresas de comunicação escrita. As maiores delas já haviam adotado a informatização da sua produção jornalística antes da chegada da internet: as redações já estavam cheias de computadores ou terminais usados para a digitação das matérias pelos próprios jornalistas, e não era incomum as matérias serem transmitidas a partir de um computador remoto, através de linha telefônica com modem. A composição das páginas dos jornais também já era feita com recursos de informática, e o resultado deste esforço criativo era a impressão em papel deste conteúdo para ser distribuído, vendido, lido (oxalá!) e descartado logo em seguida.

Meios digitais oferecem outras possibilidades para a divulgação do esforço dos jornalistas. A matéria básica é a mesma, mas há duas diferenças principais: a estrutura de apresentação é mais livre, não sendo limitada pelas restrições de espaço na página, e a durabilidade e utilidade do produto podem ser muito maiores, pois os textos publicados digitalmente podem ser mantidos para consulta ou pesquisa por tempo indeterminado.

De maneira geral, os jornais sempre foram considerados meritórios o suficiente para merecer serem guardados em bibliotecas para consulta futura. Para dar um exemplo, em 1991 visitei a biblioteca pública da cidade de Fall River, Massachusetts, EUA, e encontrei em microfilme os jornais locais de 1890 que noticiaram a morte e o enterro naquela cidade de meu trisavô irlandês. Deve-se observar que fui obrigado a ir até Fall River para realizar esta pesquisa. Uma pesquisa pela Internet de arquivos digitais dos jornais de hoje poderia ser realizada de qualquer ponto do planeta e com o apoio de ferramentas sofisticadas de busca.

Por falar em pesquisas, resolvi satisfazer minha curiosidade sobre como os diferentes jornais brasileiros passaram a publicar na internet. Encontrei dois trabalhos acadêmicos sobre o assunto. O mais antigo foi baseado na tese de mestrado em jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul de 1998 de Luciana Mielniczuk, hoje doutora e professora de jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria, RS. Na sua tese ela examina especificamente o caso do Estadão (v. www.facom.ufba.br/jol/pdf/1999_mielniczuk_netestado.pdf). [http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/1999_mielniczuk_netestado.pdf] O outro trabalho foi o projeto de graduação em jornalismo na Universidade Federal Fluminense de 2001 de Monique Cabral Abrantes, sobre jornalismo na Internet, e nele são examinados vários jornais, incluindo o Estadão (v. www.jornalismonainternet.hpg.ig.com.br). [http://www.jornalismonainternet.hpg.ig.com.br/]

Segundo Luciana Mielniczuk, o Grupo Estado aderiu à publicação eletrônica já a partir de 1993, com o projeto Estadão Multimídia, aproveitando de seis meios distintos de entrega de conteúdo, inclusive o uso de um BBS (Bulletin Board System) - um sítio de notícias, discussões e correio-e, acessível por telefone com modem. Entretanto foi apenas em 9 de dezembro de 1995 que apareceu o primeiro número do NetEstado, nome dado então para a versão Internet do diário O Estado de S.Paulo, tendo sido abandonado o antiquado BBS. Segundo Monique Cabral Abrantes, o Jornal do Brasil (do Rio de Janeiro) foi o primeiro jornal brasileiro a publicar na internet e, usando a ferramenta de pesquisa no seu sítio, hoje recuperei o texto de um artigo de 28 de maio de 1995 anunciando o início deste serviço, e comentando que ele já havia começado em caráter experimental no dia 8 de fevereiro daquele ano.

Como estudioso, sou um apaixonado pelas possibilidades abertas pela Internet, pelo menos nesta área de pesquisa e publicação e na colaboração com outros que depende disto. Há quase dezenove anos, estou seguindo minha musa, tipicamente na área acadêmica, participando no esforço coletivo de fazer da internet um adjunto de cada estudioso. Apesar de todo este contato com a tecnologia e sua aplicação acadêmica, foi com certa trepidação que me aventurei a publicar textos meus no Portal Estadão.com.br, há cinco anos atrás. Na ocasião, a coluna Sociedade Virtual havia sido criada e seus textos assinados por meu amigo e colega pernambucano, Sílvio Meira. Em 2000, ele partiu para outros espaços, e hoje possui seu próprio sítio meira.com.

Desde então, o Portal Estadão vem me abrigando, e já publiquei 134 matérias, muitas destas relacionadas aos meios de comunicação e suas novidades (para uma relação completa dos assuntos tratados v. www.ic.uff.br/~michael/SocVirt.htm. Além de assuntos mais tecnológicos, explorei vários sobre os direitos, especialmente à privacidade de quem se comunica. É evidente que o mundo mudou depois de 11 de setembro de 2001, pelo menos nos EUA, que era o país da vanguarda nestas discussões, e onde os direitos indivíduos foram colocados em cheque desde então, enquanto dure a "guerra contra o terrorismo".

Outro assunto que tratei em diversas ocasiões, mas que não prosperou como queria, foi das urnas eletrônicas, cuja segurança é considerada inaceitável por especialistas. Houve um tempo em que era possível questionar a tecnologia adotada, particularmente depois que eclodiu o escândalo da subversão do painel de votação do Senado Federal em 2001. Os problemas persistem inalterados, mas não são mais discutidos no Brasil, apesar de terem sido redescobertos e amplamente discutidos em outros países, e especialmente nos EUA.

Devo agradecimentos às pessoas do portal com quem venho trabalhando remotamente. Estes incluem meu editor, Robson Pereira, e a equipe de técnicos, hoje composta por Fábio, Thiago, Paulo Rogério e Félix Fernando, que recebe minha matérias e as coloca no ar, geralmente em poucos minutos. Tem se mostrado muito bom trabalhar neste ambiente. Já me convenci que o teletrabalho não é apenas possível como desejável, pois com a ajuda deles consigo realizar todo meu trabalho para o portal no aconchego da minha casa no Rio de Janeiro, ou em qualquer outro canto neste planeta, desde que tenha acesso à internet.