ROGÉRIO GONÇALVES
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Dezembro 2006               Índice Geral


13/12/06

• Web 2.0 (2) - Artigo de B. Piropo

----- Original Message -----
From: Rogerio Gonçalves
To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Wednesday, December 13, 2006 5:58 PM
Subject: [wireless.br] Re: Web 2.0 (2) - Artigo de B. Piropo
 

Olá Todos,
 
Fiquei triste ao ver que o meu ídolo, Benito "Trilha Zero" Piropo, também aderiu ao time de gurus que, através de artigos sem pé nem cabeça, um dia acabarão enterrando de vez o conceito do AJAX.
 
Em poucas palavras, o AJAX é apenas a habilidade de se fazer sites internet que atuem como se fossem aplicativos desktop, acabando com o ultrapassado conceito de navegação, introduzido em 1993 pelo NCSA Mosaic, que consiste naquele monótono vai-e-vem de páginas completas à cada requisição de servidor. Só isso e mais nada.
 
Porém um dia, alguém maravilhado com a revolução que o conceito de desenvolvimento de sites em AJAX iria causar na forma como as pessoas interagem com a internet, fez a besteira de rebatizá-lo como web 2.0 e isso bastou para que milhares de "especialistas em internet", ainda completamente perdidos diante da "novidade", começassem a disparar artigos rotulando quase tudo que é site famoso como "autênticos exemplos da web 2.0", resultando num festival de bobagens que acabou transformando o próprio AJAX em um simples acessório da "nova internet" que, por ironia, continuaria baseada nos ultrapassados conceitos de navegação do Mosaic, criando um paradoxo tecnológico, já que a finalidade específica do AJAX é justamente eliminar o estilo Mosaic da face da Terra.
 
Este meu desabafo se justifica pela decepção de ver o Piropo, um tremendo formador de opinião, renegando o seu histórico lado cético de escovador de bits, não ter se aprofundado suficientemente no assunto, limitando-se a propagar ainda mais os conceitos distorcidos de AJAX inventados pelos supostos "especialistas em internet", quando poderia nos surpreender, apontando as inúmeras contradições existentes nos artigos destes senhores e ajudar a colocar um pouco de
ordem na casa.
 
Quanto ao artigo do Piropo, os seguintes pontos merecem ser destacados:
 
1) O conceito AJAX será o único responsável pelo surgimento da web 2.0, por fazer as páginas internet atuarem como aplicativos desktop, eliminando de vez com o conceito Mosaic de navegação.
 
2) O incremento de ações e participações da parte do usuário serão apenas consequências do surgimento de sites web que simulem aplicativos desktop, pois como as requisições de servidor passarão a ser transparentes para os usuários, eles poderão esquecer os botões de navegação dos browsers e preocuparem-se apenas em interagir com o conteúdo, o que certamente aumentará a produtividade deles no ambiente web 2.0.
 
3) O CSS e o RSS são completamente irrelevantes para o conceito AJAX, já que o novo paradigma criado por ele, reside exclusivamente na transparência das chamadas de servidor, eliminando a navegação estilo Mosaic.
 
4) Os servidores só "montam" páginas quando requisitados através de scripts que geram conteúdo dinâmico, como o ASP, PHP e JSP. Na esmagadora maioria dos casos, a internet ainda funciona como se fosse uma grande apresentação de slides do PowerPoint, onde os slides, cheinhos de informações redundantes em HTML, já estão sempre prontos para serem enviados com casca e tudo para os usuários a cada clique nos links.
 
5) O excelente open source Ajax Engine (http://www.mathertel.de/AJAXEngine/#view=Home), é apenas um dos milhares de frameworks que estão disponíveis na internet para os interessados em desenvolver sites AJAX. A versão original do Ajax Engine foi desenvolvida em C# e baseada no framework ASP.NET. Somente
depois surgiu a versão Java.
 
6) Os sites AJAX não dependem necessariamente do Ajax Engine, pois contanto que o objetivo de fazer o site internet atuar como uma aplicação desktop seja alcançado, os desenvolvedores podem recorrer a qualquer tipo de técnica, linguagem de scripts ou componente de servidor. Dessa forma, tanto faz que os sites estejam em Flash, ASP, ASP.NET, PHP, Java, CF ou até mesmo que misturem todos estes recursos em uma mesma panela. Porém, até que inventem algo melhor, o
JavaScript continua sendo insubstituível para fazer o AJAX funcionar no lado cliente.
 
7) O conceito AJAX é booleano. Ou o site é 100% AJAX ou é apenas um site Mosaic com algumas funções JavaScript.
 
8) Em 1999, o "locutor que vos escreve" desenvolveu um site que pode ser considerado como uma versão primitiva do AJAX, por incorporar o conceito de página única. Este site, cuja última atualização ocorreu em 2001 e permanece no ar apenas por motivos afetivos, pode ser acessado em (www.karioke.com.br)
 
9) Esta idéia de site colaborativo, que as pessoas cismaram de considerar como o grande barato da web 2.0, surgiu quase junto com o início da internet comercial. Muita gente ainda deve lembrar que em 94/95 éramos nós que incluíamos as informações sobre os nossos sites no Yahoo e no Altavista, antes de existirem os robots.
 
10) O controle activeX "XMLHTTP" não tem nada de novo, pois ele foi lançado pela M$ em 1997, junto com o IE3. Como esse controle só funcionava no IE e naquela época quem dominava o mercado era o Netscape, os desenvolvedores acabaram o ignorando, até porque era muito mais prático realizar as chamadas de servidor em frames ocultos, por oferecer maior controle sobre as partes do site que seriam atualizadas dinamicamente via JavaScript, assim como por facilitar bastante a depuração dos scripts de servidor.
 
11) O método JavaScript XMLHTTP.Request para os browsers não-IE, também foi lançado no final dos anos 90 pela Netscape. Porém, como ele nunca fez a menor falta para o pessoal que utilizava frames ocultos nas requisições de servidor, o novo método também acabou engavetado, junto com o activeX da M$, até que o Jesse Garrett resolveu surpreender o mundo no final de 1994, desenterrando os bichinhos e apresentado-os como a grande "novidade" do século.
 
12) Finalmente, ficou meio estranho a preocupação demonstrada pelo nosso amigo Piropo de que o seu artigo estivesse aderente aos inexistentes "padrões" Web 2.0, já que estes supostos "padrões" existem apenas na imaginação dos escribas que o antecederam, ficando aqui portanto a lembrança, que não é nenhuma novidade para ele: "em termos de web 2.0, a única coisa realmente aderente é o Modess".
 
Como todos já devem ter reparado, a cada novo artigo sobre web 2.0 que é publicado, a confusão sobre o assunto só faz aumentar e isto afeta diretamente a vida de milhares de profissionais que ainda conseguem sobreviver de internet, assim como de milhares de jovens que estão pagando uma nota de faculdade para aprenderem as teorias jurássicas do Jakob Nielsen sobre interatividade de sites. Pois bem.
Imaginem-se no lugar destas pessoas. No caso dos profissionais, que tipo de especialização eles precisariam para manterem-se em seus empregos? E, no caso dos estudantes, será que as teorias do Jakob se aplicam em um ambiente web 2.0 diferente daquele que é apregoado atualmente pelos "especialistas em internet"?
 
Nesta questão, colunistas do calibre do Piropo e da amigona Elis Monteiro são decisivos, pois sempre existe a espectativa de, do alto de suas experiências, eles mostrarem o caminho a ser seguido o que, definitivamente, não está ocorrendo no caso da web 2.0 e a minha esperança, é que estes gurus (sem aspas) reflitam melhor sobre a importância deles no desenvolvimento profissional de milhares de pessoas, passem uma borracha em tudo o que escreveram até agora sobre
web 2.0 e façam o conceito AJAX retornar as suas origens, antes que seja tarde demais.
 
Um abraço
 
Rogério Gonçalves
Diretor de Pesquisa Regulatória - ABUSAR
Webmaster do site Vila Isabel Digital - www.vilaisabeldigital.com.br

 

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