Preenchimento Perceptual em Tricromatas e Dicromatas
 

Márcia Furukawa Couto

 [Página 06]


4 - Diferenças perceptuais entre tricromatas e dicromatas:

Tem sido demonstrado que os dicromatas possuem maior capacidade para detectar objetos camuflados do que os tricromatas, em situações onde a camuflagem foi feita através de cores distribuídas aleatoriamente (Morgan et al., 1992; Cunha, 2005).

Considerando que os dicromatas possuam uma lacuna no sistema parvocelular devido à falta de um tipo de cone, é provável que isto seja compensado com um maior desenvolvimento do sistema magnocelular. Esse fato seria responsável pela melhor discriminação, de variações mínimas de luminância ou brilho, demonstrada pelos dicromatas (Verhulst e Maes, 1998; Gomes et al., 2002). Nessa mesma linha de raciocínio, surge a hipótese de que o sistema koniocelular seja mais favorecido nos dicromatas do que nos tricromatas.

Além deste fato, os dicromatas melhoram sua capacidade de discriminar cores em situações onde o campo de estimulação é estendido para fora da região foveal. Comparando-se a desempenho dos dicromatas na discriminação de verde e vermelho em testes com área do campo de 1º, 2º, 4º e 8º, verificou-se que todos aceitaram pareamentos anormais em 1º, mas todos rejeitaram pareamentos anormais em 8º. Este fato pode ser atribuído à habilidade dos dicromatas em discriminar diferenças mínimas de saturação (menos de 1%) entre duas fontes de luz quando são utilizados campos estendidos (Smith e Pokorny, 1977). Salientamos, entretanto, que o efeito de campo estendido não foi comprovado em testes realizados com macacos do Novo Mundo (Gomes et al., 2005).

Outra diferença dos dicromatas em relação aos tricromatas aparece na detecção de estímulos modulados em alta (16 Hz) e baixa (1 Hz) frequência temporal. Dicromatas apresentam vantagem na detecção de estímulos com alta frequência temporal em relação aos tricromatas e perdem para estes na detecção de estímulos de baixa frequência. Aqui novamente sugere-se que dicromatas possuam vantagem no processamento visual via sistema magnocelular, que é favorecido nas altas frequências temporais (Sharpe et al., 2006).

Relevância do trabalho:

Preenchimento perceptual tem sido considerado como eficiente ferramenta para investigar o caráter das representações visuais (Pessoa e Neumann, 1998). A criação de componentes ilusórios, o preenchimento de áreas vazias, o desaparecimento de componentes presentes no campo de visão indicam que o cérebro reconstrói a cena visual. Em determinadas condições, tais como no triângulo de Kanizsa, a partir de informações esparsas o sistema visual gera a hipótese mais provável (Pessoa e Neumann, 1998).

O exato mecanismo neural responsável pelo preenchimento perceptual é ainda desconhecido. O estudo deste fenômeno através do modelo baseado no efeito de Troxler oferece sólidos indícios a respeito dos mecanismos corticais de processamento visual. Trata-se de método não invasivo, de fácil compreensão por parte dos indivíduos testados. É também um modelo que abre possibilidades para trabalhos futuros através da variação de parâmetros visuais e através do estudo de patologias geradoras de escotomas.

Não existem estudos comparando o preenchimento perceptual de cores nos canais de oponência em diferentes excentricidades, como também não existem estudos comparando o tempo de preenchimento perceptual de tricromatas com o de dicromatas.

Objetivos do trabalho:

1) Montagem de linha de pesquisa para estudo de preenchimento perceptual no Laboratório de Neurociências e Comportamento da Universidade de Brasília.
2) Elaboração de software para produção de imagens teste e computação de resultados.
3) Avaliação do preenchimento perceptual de escotoma artificial com variação paramétrica.
4) Comparação de resultados de preenchimento perceptual entre dicromatas e tricromatas.

 

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