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Michael Stanton |
A convergência das redes de comunicação |
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Autor: Michael Stanton |
Michael Stanton ( michael@ic.uff.br ) nasceu e viveu na Inglaterra até os 23 anos. Depois de dois anos nos Estados Unidos veio se radicar no Brasil, e mora atualmente no bairro da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Doutor em matemática pela Universidade de Cambridge, desde 1972 se dedica, já no Brasil, ao estudo, ensino e prática da informática e suas aplicações. Seu atual namoro com as redes de comunicação começou em 1986, e ele participou ativamente na montagem no País das redes Bitnet e Internet, tendo participado da coordenação da Rede-Rio e da Rede Nacional de Pesquisa nas suas fases formativas. Depois de longa atuação como professor do Departamento de Informática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, hoje é professor titular de comunicação de dados do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói, RJ, onde coordena o projeto de modernização da infra-estrutura de comunicação desta universidade; é Diretor de Inovação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP); mantém uma coluna quinzenal no Estadão desde junho de 2000 sobre a interação entre as tecnologias de informação e comunicação e a sociedade.
A convergência das redes de comunicação
Desde a criação do telégrafo nos anos 1830, a cada nova mídia de
comunicação adotada foi criada uma rede distinta para torná-la disponível a
seus usuários.
Sucessivamente tivemos o telefone, o telex, a comunicação de
dados e a TV a cabo, cada um acompanhado por sua própria rede de serviços.
Hoje é comum o usuário final possuir conexões separadas às redes de telefonia,
de dados e de TV a cabo.
Quando se fala da convergência na área de
telecomunicações, se refere à redução para uma única conexão de rede,
fornecendo todos os serviços, com conseqüente economia de escala.
A convergência é um tema discutido desde os anos 80, quando foi reconhecida
pela primeira vez a importância crescente da comunicação entre computadores.
Com a digitalização da rede de telefonia, a voz passou a ser transmitida como
dados entre as centrais telefônicas, mantendo-se porém a rede de terminais
analógicos para os usuários finais.
Nesta época já foi defendida a extensão do
canal de voz digital até o usuário final, substituindo seu antigo telefone
analógico por um aparelho digital.
Foi proposta a criação da Rede Digital de
Serviço Integrados (RDSI, em inglês seria ISDN), que levaria ao usuário uma
única conexão (digital), podendo ser usado indistintamente para voz
(telefonia) e comunicação de dados em até 128 kilobits/s.
Quando foi proposto,
este serviço seria revolucionário, pois os modems usados na época eram
tipicamente de 2400 bits/s.
Porém, ele demorou muito para chegar.
No Brasil,
ele somente passou a ser oferecido ao público no final dos anos 90, quando já
existiam modems de 56 kbps, e outras alternativas ainda mais rápidas.
A segunda tentativa de promover a convergência veio ainda nos anos 80,
associada à introdução de fibras óticas e serviços de faixa larga.
A fibra
ótica possui uma capacidade de transmissão digital tão enorme, que abriu a
possibilidade de enviar por cabo novas aplicações antes impraticáveis, tais
como televisão.
Enxergava-se a perspectiva de realizar um novo nível de
integração entre as redes de comunicação, e foi lançada a proposta de RDSI de
Faixa Larga (RDSI-FL), baseada em Asynchronous Transmission Mode (ATM).
Nesta
proposta, seria criada uma rede mundial ATM, à qual todos os computadores
estariam ligados, e através de uma única conexão seria realizado acesso a
serviços de telefonia e televisão, além de dados.
Para dar suporte à
transmissão de voz e vídeo, o ATM previu suporte diferenciado para diferentes
tipos de serviço, de qualidades e prioridades distintas.
A propalada convergência através de uma rede ATM não se sustentou.
Embora o ATM hoje seja muito usado nos backbones das grandes redes de dados, não se
espera para ele uma sobrevida longa.
O que teria lhe sido fatal foi a
concorrência com outras tecnologias de rede, especialmente a Ethernet, que
permite interligar computadores em rede local por um preço muito menor que o
ATM.
Sem interligar diretamente as centenas de milhões de computadores das
grandes redes, o ATM passou a ser apenas mais uma tecnologia de rede, entre
várias, e requerendo ainda uma tecnologia de inter-redes, tal como o TCP/IP da
Internet para comunicação fim-a-fim.
O ATM não deverá sobreviver porque ele é
muito complexo e caro comparado com as alternativas mais recentes.
Hoje acredita-se que a convergência entre as redes de serviços será
realizada através do TCP/IP, estendido para tratar prioritariamente aplicações
como voz e vídeo.
A extensão mais promissora se chama Serviços Diferenciados,
que permite uma classificação simples de aplicações, de acordo com seu grau de
urgência ou importância, ou com o preço cobrado para sua transmissão. Nesta
visão, a Internet deverá deixar de ser uma rede onde todos usuários são
tratados de forma igual.
Será este o preço a pagar para se tornar a rede única
para todos os serviços diferentes.
Devem aparecer novos serviços, talvez
principalmente de entretenimento, pelos quais vai se pagar um preço maior do
que pelo serviço tradicional de hoje.
A cara do futuro já está se evidenciando a nível mundial através das fusões
entre empresas operadoras de serviços de telecomunicações (telefonia e TV a
cabo), e entre fabricantes de equipamentos.
Entre fabricantes de telefonia, há
uma corrida generalizada para a tecnologia TCP/IP de comunicação de dados,
geralmente através da aquisição de empresas especializadas.
A conseqüência
mais evidente é o lançamento nos últimos meses de equipamentos de telefonia IP,
termo que caracteriza a comunicação por voz, com qualidade e recursos da
telefonia, usando redes de dados para sua transmissão.
Alguns casos incluem a
aquisição da Bay Networks pela Nortel Networks, da Fore Systems pela Marconi,
e da Xylan pela Alcatel.
Desconfia-se que não há um futuro muito róseo para um
fabricante de equipamentos de telefonia que não acompanhe esta evolução.
Enfim, parece que a tecnologia vai permitir realizar a sonhada convergência
para uma rede única.
Porém isto só deve trazer benefícios para o usuário
final, se ele tiver a liberdade de escolher quem será seu provedor destes
serviços integrados.
Para esta pergunta não se pode postular ainda uma
resposta.
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