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Abril 2008               Índice Geral do BLOCO

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22/04/08

• Backhaul e PGMU (02) - Para entender... e participar

----- Original Message -----
From: Helio Rosa
To:
Celld-group@yahoogrupos.com.br ; wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Tuesday, April 22, 2008 7:03 PM
Subject: BACKHAUL E PGMU (02) - Para entender... e participar!
 
Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!
 
01.
Como todos se lembram, fizemos recentemente algumas mensagens perguntando o que era backhaul e qual a diferença entre backhaul e backbone.

Na realidade, como perceberam em seguida, tudo era preparação para entendermos bem o Decreto Presidencial 6424 que determina uma mudança nos contratos de concessão com as operadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC).

As mensagens estão registradas no
BLOCO.
 
Nossa participante, Flávia Lefèvre Guimarães, é advogada da Pro Teste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor .
A "Pro Teste" move uma ação civil pública contra a ilegal inclusão nos contratos de concessão do STFC de metas de universalização que consistem em instalação do que o governo tem chamado de backhaul nos municípios onde não há acesso para banda larga.

Como membro do Conselho consultivo da Anatel, Flávia elaborou um Relatório com sugestões.
É um trabalho excelente!
Está disponível para download em formato .doc zipado
aqui.
Devidamente autorizados pela Flávia publicamos também em formato HTML ("página web"):
Relatório a respeito da proposta de alteração do Plano Geral de Metas de Universalização do STFC
Vale conferir! É uma aula sobre o tema!

02.
Este assunto interessa e muito aos pequenos provedores de internet.
Jorge de La Rocque, presidente da
Rede Nacional de Provedores Global Info é um dos nossos participantes e informou que a Rede também está trabalhando com uma ação sobre o assunto.
No final desta mensagem está uma coleção de "posts" do
BLOCO sobre o tema "pequenos provedores".
 
03.
Quem já estiver em condições de contribuir com estas ações, por favor, estamos salivando...  :-)

Mas toda a ComUnidade precisa entender bem o tema.

Solicitei à Flavia Lefèvre um texto "compacto" como ambientação: está transcrito a seguir.
Obrigado, Flávia!
Logo após, está uma montagem feita à partir de um artigo de Gustavo Gindre, já divulgado aqui, como complementação.
Vamos entender?
Vamos debater?
 
04.
Texto recebido de Flávia Lefèvre

A LGT proíbe três coisas:
1. Que uma concessionária preste outro serviço em sua área de concessão, além do STFC;
2. Que cada modalidade de serviço concedido, autorizado ou licenciado deve estar contemplado por um contrato específico; ou seja, não se pode ter no mesmo contrato a concessão do STFC e outra modalidade de serviço qualquer;
3. Que é proibido o subsídio entre serviços; ou seja, as concessionárias não podem usar a receita proveniente do STFC para subsidiar outro serviço, que não o próprio STFC.
 
Foi dentro desse regime que se definiram as metas de universalização, que são parte integrante do contrato de concessão. Ou seja, as obrigações de universalização, por serem parte integrante do contrato de concessão, cujo objeto é o STFC, não podem contemplar nenhuma outra modalidade de serviço, que não o próprio STFC.
 
Apesar de tudo isso estar muito claro, sem licitação prévia, que abriria oportunidade de outras empresas interessadas participarem, o governo deu de mão beijada para as concessionárias a concessão para implantarem os chamados backhauls.
 
Não sei se ficou claro que todas as proibições descritas acima foram desrespeitadas, além da lei de licitações.
 
Veja que o efeito disso é: 
1. Maior concentração do setor de telecomunicações nas mãos das concessionárias;
2. Consequentemente, altos preços e baixa qualidade e
3. Que a penetração do STFC, que é menor do que a da Argentina e está decrescendo, vai ficar menor ainda, pois, apesar de ter infra-estrutura à disposição dos potenciais consumidores, estes não conseguem bancar a assinatura de R$ 40,00 - 10% do salário mínimo. Isto porque, como o backhaul se tornou obrigação de universalização, a receita para implementá-la será a proveniente do STFC.
 
Sendo assim, é muito importante mostrar para a juíza que backhaul não é STFC e, mais, que também não é suporte para STFC, na medida em que a saída que o governo achou para justificar essa montanha de ilegalidades é dizer que o backhaul, apesar de não ser STFC, serve de suporte para o serviço objeto da concessão e que, por isso, pode ser incluído no contrato, a despeito de todos os impedimentos mencionados.

05.
Então...
Como disse, para complementar as explicações da Flávia, faço uma "colcha de retalhos" do artigo do Gustavo Gindre.
É um montagem apenas, com o objetivo explícito de ressaltar os pontos polêmicos; só tem valor se consultado o
texto original na íntegra!!! (clique para acessar a fonte ou leia a transcrição no final desta mensagem).
 
Fonte: Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
[09/04/08]   Governo troca política de inclusão digital ampla por banda larga nas escolas por Gustavo Gindre

Montagem de recortes:
 
"No dia 7 de abril foi publicado no Diário Oficial da União o Decreto Presidencial 6424 que determina uma mudança nos contratos de concessão com as operadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC): Telefonica, Oi e Brasil Telecom.
 
Pelas novas regras, acordadas com as operadoras, estas deixam de estar obrigadas a instalar os PSTs  (exceto no caso de cooperativas rurais), mas passam a ter que colocar seus backhauls em todas as sedes municipais brasileiras.
 
Se a banda larga pudesse ser comparada com árvores, os backbones que  as operadoras possuem seriam os troncos, o backhaul os galhos e cada cidade brasileira uma folha. Sem o backhaul, não é possível levar a seiva que vem do tronco para cada folha. Ou seja, o backhaul interliga o backbone da operadora às cidades. No Brasil, mais de 2000 municípios não têm backhaul e, portanto, não podem se conectar à banda larga.
 
A proposta do governo é digna de mérito, porque, no século XXI, é muito mais importante garantir a universalização da banda larga do que do telefone fixo. Contudo, este adendo aos contratos de 2005 ainda apresenta problemas. São pelo menos dois.
- As velocidades mínimas exigidas para cada backhaul são muito baixas.
- E não há a obrigação para que a operadora faça unbundling em seu backhaul.
 
Em resumo, ainda que amplie o alcance da banda larga, o Decreto Presidencial 6424 está longe de garantir a tão sonhada inclusão digital de nossa população e tem como efeito colateral o aprofundamento do monopólio regional exercido por cada tele em sua área de concessão
 
Além da troca dos PSTs pelos backhauls, o governo negociou um segundo acordo com as teles, que prevê a instalação de conexão de 1 Mbps em cada uma das 56 mil escolas públicas urbanas brasileiras, sem custos para os governos (federal, estaduais e municipais) pelo menos até 2025 (quando vencem os atuais contratos de concessão). Até 2010 todas essas escolas deverão estar com a conexão funcionando.
 
Mas, o acordo subterrâneo com as teles foi além. Não bastava apenas garantir que o governo abriria mão de usar sua própria infra-estrutura para fazer inclusão digital. As teles também ganharam o direito de explorar sozinhas a rede que irão construir para chegarem até as escolas.
 
Com backhauls e redes de “última milha” para uso exclusivo, as teles acabaram de ganhar o monopólio da banda larga em todo o país.
 
Por esta linha de raciocínio, o governo negociou a instalação da banda larga nas escolas em troca do abandono da idéia de um backbone estatal e da morte dos pequenos provedores locais."
 
06.
Vamos colaborar?
Vamos tirar as dúvidas?
Vamos opinar?
Vamos debater?
Vamos convidar pessoas fora da ComUnidade para participar, encaminhando suas mensagens?
 
Para finalizar, permito-me registrar saudades virtuais do nosso participante Desembargador Fernando Botelho...  :-))
 
Obrigado!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa

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MENSAGENS
 
---- Original Message -----
From: Flávia Lefèvre
To: WIRELESS GRUPO
Sent: Saturday, April 19, 2008 1:38 PM
Subject: [wireless.br] BACKHAUL E PGMU
 
Prezados
 
Sou advogada da Pro Teste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. Movemos uma ação civil pública contra a ilegal inclusão nos contratos de concessão do STFC de metas de universalização que consistem em instalação do que o governo tem chamado de backhaul nos municípios onde não há acesso para banda larga.
 
Considerando que a LGT determina que para cada modalidade de serviço é necessário um contrato de concessão distinto, estamos querendo demonstrar para a juíza que o tal do backhaul, não só não pode ser classificado como STFC, mas também que ele não é suporte para o STFC.
 
O artifício malicioso para que as concessionárias pudessem receber o presente de ganhar um novo contrato sem licitação foi esse: dizer que o backhaul é suporte para o STFC e, portanto, pode ser incluído no contrato de concessão.
 
Solicito a todos que possam contribuir com informações e fontes técnicas para desfazer esse engodo, que, por favor, tragam para o grupo os esclarecimentos.
 
Obrigada desde já.
Flávia Lefèvre Guimarães
 
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----- Original Message -----
From: Rogerio Gonçalves
To:
wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Sunday, April 20, 2008 1:00 AM
Subject: [wireless.br] Re: BACKHAUL E PGMU
Oi Flávia,
 
Gostei da surpresa de te ver por aqui!!!
 
Hélio e demais participantes do grupo,
 
Além de advogada da Pro Teste, a Flávia também é "membra" do conselho consultivo da Anatel, autora daquele relatório que explica, tintim por tintim, os trambiques que o Hélio Costa queria aplicar nos usuários da telefonia fixa com a troca dos "PSTs" por "backhaus".
 
Como o relatório da única representante dos usuários detonava a maracutaia do PGMU, a solução encontrada pelos prepostos do governo, infiltrados no CC da Anatel, foi pedir para o José Zunga, membro do conselho e gerente da Brasil Telecom, que fizesse um novo relatório, escondendo toda a sujeira, para ser aprovado do jeitinho que os seus patrões haviam mandado.
 
O link para o relatório da Flávia pode ser acessado em:
www.teletime.com.br/arquivos/relat_lefevre.zip
 
Pelo que ouvi dizer, a juíza já despachou alguma coisa sobre o pedido de liminar da ACP da Pro-Teste. Só que, agindo rápido feito um corisco, a AGU meteu a mão no processo, antes mesmo da decisão ser incluída no sistema do TRF e está com ele por lá até hoje.
 
Será que isso é normal?
 
Portanto pessoal, temos aí mais uma participante de peso para os nossos papos. Cuidem bem dela...
Um abraço
Rogério
 
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----- Original Message -----
From: Carlos Carneiro
To:
wirelessbr@yahoogrupos.com.br ; tele171@yahoo.com.br ; Lista Privativa SCM_P ; UNOTELLISTA ; flavialefevre@yahoo.com.br ; Helio Rosa ; delarocque@redeglobalinfo.com.br
Sent: Sunday, April 20, 2008 6:07 PM
Subject: Re: [wireless.br] Re: BACKHAUL E PGMU
 
Prezados,
Segue no final do e-mail mensagem da Flávia Lefèvre, onde peço novamente, se puderem ajuda-la fornecendo as informações necessárias que será benéfico também aos provedores e empresas SCM, seguindo abaixo mensagem do Rogério Gonçalves passando o trabalho da Flávia Lefèvre contra os trambiques que estão prejudicando e irão prejudicar não somente os provedores e empresas SCM mas também toda a população.
 
Atenciosamente,
Carlos Roberto Maciel Carneiro
carlos.roberto.maciel@gmail.com
Macaé/RJ
Tel.: (22) 3311-4312 (Macaé/RJ)
       (11) 6824-6530 (São Paulo/SP)
 
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----- Original Message -----
From: Flávia Lefèvre
To: Carlos Carneiro ;
wirelessbr@yahoogrupos.com.br ; tele171@yahoo.com.br ; Lista Privativa SCM_P ; UNOTELLISTA ; Helio Rosa ; delarocque@redeglobalinfo.com.br
Sent: Sunday, April 20, 2008 7:18 PM
Subject: Re: [wireless.br] Re: BACKHAUL E PGMU
 
Oi, Rogério
Viu que eu segui mais uma vez seu conselho, né? Procurei rapidinho bisbilhotar nesse grupo. Tenho certeza que terei muitas boas surpresas por aqui.
Obrigada.
Flávia
 
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----- Original Message -----
From: Jorge de La Rocque
To: 'Flávia Lefèvre' ; 'Carlos Carneiro' ;
wirelessbr@yahoogrupos.com.br ; tele171@yahoo.com.br ; 'Lista Privativa SCM_P' ; 'UNOTELLISTA' ; 'Helio Rosa'
Sent: Monday, April 21, 2008 5:38 PM
Subject: RES: [wireless.br] Re: BACKHAUL E PGMU

Nós da Rede Global Info também estamos trabalhando com uma ação e provavelmente será uma liminar
[ ]'s
Jorge de La Rocque                                                                                  
 
VoIP Intervoz - 31159419
Skype - delarocque
MSN
delarocque46@hotmail.com
CEO Alternativa Informática
Presidente da Rede Nacional de Provedores Global
A maior Rede de Provedores de Internet do Brasil
 
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Fonte: Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
[09/04/08]   Governo troca política de inclusão digital ampla por banda larga nas escolas por Gustavo Gindre

Observatório do Direito à Comunicação
 
No dia 7 de abril foi publicado no Diário Oficial da União o Decreto Presidencial 6424 que determina uma mudança nos contratos de concessão com as operadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC): Telefonica, Oi e Brasil Telecom.
 
Os contratos, assinados em 2005, obrigavam que as empresas instalassem Postos de Serviço Telefônico (PSTs) em cada cidade brasileira. Menos de três anos depois, chegou-se à conclusão que aquelas obrigações estavam erradas e o próprio governo sugeriu a mudança, sem contudo, assumir publicamente o equívoco cometido em 2005.
 
Pelas novas regras, acordadas com as operadoras, estas deixam de estar obrigadas a instalar os PSTs  (exceto no caso de cooperativas rurais), mas passam a ter que colocar seus backhauls em todas as sedes municipais brasileiras.
 
Se a banda larga pudesse ser comparada com árvores, os backbones que  as operadoras possuem seriam os troncos, o backhaul os galhos e cada cidade brasileira uma folha. Sem o backhaul, não é possível levar a seiva que vem do tronco para cada folha. Ou seja, o backhaul interliga o backbone da operadora às cidades. No Brasil, mais de 2000 municípios não têm backhaul e, portanto, não podem se conectar à banda larga.
 
A proposta do governo é digna de mérito, porque, no século XXI, é muito mais importante garantir a universalização da banda larga do que do telefone fixo. Contudo, este adendo aos contratos de 2005 ainda apresenta problemas. São pelo menos dois.
 
As velocidades mínimas exigidas para cada backhaul são muito baixas. Por exemplo, uma imaginária cidade com 70.000 habitantes teria, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em torno de 20.000 residências, mas contaria com um backhaul de apenas 64 Mbps. Ou seja, se apenas 1.000 casas tiverem dinheiro para contratar o serviço de banda larga oferecido pela tele, ainda haveriam 19.000 excluídas e a velocidade máxima disponível para cada residência conectada à suposta banda larga seria de apenas 64 Kbps, ou igual àquela obtida por uma linha telefônica comum.
 
E não há a obrigação para que a operadora faça unbundling em seu backhaul. Por detrás desse palavrório técnico, tal obrigação significa que a operadora teria que vender parte da capacidade instalada do seu backhaul a qualquer provedor interessado em competir com a própria tele. E a preços não discriminatórios, regulados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Essa seria a única forma de estimular a concorrência. Do jeito como ficou, o Decreto permite que os backhauls sejam usados exclusivamente pelos próprios serviços de banda larga das operadoras (BrTurbo, Velox e Speedy), matando qualquer possibilidade de concorrência local.
 
Mas, principalmente, a falta do unbundling dificulta em muito o surgimento de experiências de redes comunitárias, organizadas pelas prefeituras e/ou pela sociedade civil, usando tecnologias sem fio, e que levam a Internet gratuíta à prédios públicos (como bibliotecas e telecentros), mas também às próprias casas, o que já fazem Sud Minucci (SP) e Duas Barras (RJ).
 
Em resumo, ainda que amplie o alcance da banda larga, o Decreto Presidencial 6424 está longe de garantir a tão sonhada inclusão digital de nossa população e tem como efeito colateral o aprofundamento do monopólio regional exercido por cada tele em sua área de concessão.
 
O acordo subterrâneo
 
A mudança dos contratos de concessão teve que contar com a concordância das teles. Caso contrário, ficaria valendo a obrigação inicial dos PSTs. Para convencer as teles, um estudo da Anatel comprovou que o custo de instalação dos backhauls nos municípios que ainda não o possuem seria o mesmo da instalação dos PSTs. Seria trocar seis por meia dúzia, sem onerar o caixa destas empresas. E é óbvio que as teles perceberam, também, que a futura prestação de serviços de banda larga lhes trará muito mais receita do que a administração de postos telefônicos.
 
Tudo certo, eis que surge um novo elemento. Além da troca dos PSTs pelos backhauls, o governo negociou um segundo acordo com as teles, que prevê a instalação de conexão de 1 Mbps em cada uma das 56 mil escolas públicas urbanas brasileiras, sem custos para os governos (federal, estaduais e municipais) pelo menos até 2025 (quando vencem os atuais contratos de concessão). Até 2010 todas essas escolas deverão estar com a conexão funcionando.
 
Se as teles brigaram tanto para ter certeza que a obrigação dos backhauls não lhes custaria nada a mais do que a antiga obrigação dos PSTs, se não queriam desembolsar nada além do que fora previsto inicialmente, por que aceitaram tão prontamente este novo acordo, que foi anunciado no dia 8 de abril pelo presidente Lula? Nada as obrigava a este novo acordo. Por que concordaram? Puro patriotismo?
 
Coincidência ou não, ao mesmo tempo em que começaram as negociações em torno deste segundo acordo, saía de cena o debate no interior do governo sobre o “backbone estatal”.
 
Essa proposta consistia em dois movimentos.

Primeiro, unificar a gestão dos cerca de 40 mil Km de fibra óptica que o governo federal já possui, seja através das estatais ou da massa falida da Eletronet.

Em segundo lugar, construir sua própria rede de backhaul, levando a conexão deste backbone estatal a cada município brasileiro.

Com isso, o governo estaria em condições de ofertar às cidades (prefeituras e/ou sociedade civil) a possibilidade de construirem redes locais que posteriormente seriam conectadas à infra-estrutura do governo federal.

Sem fins lucrativos, este backbone estatal poderia cobrar das cidades apenas o necessário para se manter e crescer (o que é bem menos do que cobram atualmente as teles).

De inicío, já seria possível prever que as prefeituras e governos estaduais poderiam usar os serviços de telefonia por IP desta rede, deixando de ser usuárias das operadoras privadas. Uma economia de muitos milhões para os cofres públicos.

Mas, também seria possível construir redes comunitárias, que levassem Internet banda larga, telefonia por IP, webrádio, IPTV e muito mais para todas as comunidades hoje excluídas das estratégias de mercado das teles. Uma ligação local, feita de um telefone conectado a esta rede comunitária para outro igualmente conectado, teria preço igual a zero!
 
Mas, o acordo subterrâneo com as teles foi além. Não bastava apenas garantir que o governo abriria mão de usar sua própria infra-estrutura para fazer inclusão digital. As teles também ganharam o direito de explorar sozinhas a rede que irão construir para chegarem até as escolas. Essa rede passará na porta de milhares de residência e obviamente as teles a usarão para vender seus serviços de banda larga. A proposta do governo não obriga a que as teles tenham que partilhar essa rede com os provedores locais (o tal unbundling).
 
Com backhauls e redes de “última milha” para uso exclusivo, as teles acabaram de ganhar o monopólio da banda larga em todo o país.
 
Se tudo isso for mais do que uma simples coincidência, quando o presidente da República inaugurar a primeira escola conectada em banda larga através deste segundo acordo com as operadoras, o que pouca gente saberá é que esse evento festivo também será o funeral de uma idéia muito mais inclusiva.
Por esta linha de raciocínio, o governo negociou a instalação da banda larga nas escolas em troca do abandono da idéia de um backbone estatal e da morte dos pequenos provedores locais.
 
Para as teles, as 56 mil escolas conectadas até que saíram barato...

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