FERNANDO NETO BOTELHO

TELECOMUNICAÇÕES - QUESTÕES JURÍDICAS

Novembro  2005               Índice (Home)


01/11/05

Os 4 bi do FUST foram pelo ralo?

----- Original Message -----
From: Fernando Botelho
To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br ; Celld-group@yahoogrupos.com.br
Sent: Monday, November 01, 2005 11:03 PM
Subject: Re: [Celld-group] Fw: Os 4 bi do FUST foram pelo ralo? - Reportagem

Hélio e demais,

O artigo (abaixo) é preciso em tudo, infelizmente. Mas, há solução...pelo menos, quando não há solução extrajudicial em vista, aproxima-se o cenário da última via: a solução judicial do entrave. É o que o FUST (hoje, o F(R)UST) prenuncia.
Grande abraço,
Fernando Botelho

ETHEVALDO SIQUEIRA O ESTADO DE S.PAULO

Domingo, 30 de outubro de 2005
R$ 4 bilhões do Fust já foram pelo ralo

Nenhuma novela talvez tenha fim mais trágico no Brasil do que a incrível história do Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust). A começar pelos R$ 4 bilhões acumulados desde o ano 2000 e não utilizados até hoje. Esse fundo é constituído, entre outros recursos, pela contribuição de 1% das receitas brutas das operadoras de telecomunicações. Anualmente ele canaliza cerca de R$ 800 milhões ao Tesouro Nacional.

Criado pela Lei 9.998, de 17 de agosto de 2000, o Fust nunca foi aplicado em suas finalidades legais. E dificilmente o será, embora ministros e dirigentes de empresas concessionárias anunciem com muita freqüência a possibilidade de recorrer aos recursos desse fundo para levar telefones às áreas pobres e às famílias mais carentes do País ou para implementar projetos de alto interesse social - visando à democratização do acesso à internet, à informatização do ensino ou da saúde.

Puro sonho ou ilusão. Até porque, segundo a opinião de especialistas do próprio Ministério da Fazenda, o fundo não é cumulativo e tudo que não foi empenhado ou utilizado dentro dos exercícios anteriores, “caiu em exercício findo” e foi sugado pelo buraco negro dos orçamentos passados. Logo, não existem os R$ 4 bilhões recolhidos pelas operadoras de telecomunicações nos últimos cinco anos. É mais provável que esses valores já tenham sido utilizados pelo governo, não apenas para engordar o superávit primário - a alegria do ministro Antonio Palocci - mas também para reduzir a dívida interna.

No passado, o Brasil viveu situação semelhante com o confisco do Fundo Nacional de Telecomunicações (FNT), uma sobretarifa de 30% paga pelos usuários sobre o valor de todos os serviços de telecomunicações por mais de 20 anos, a partir de 1967. Embora do ponto de vista legal o FNT devesse ser aplicado na infra-estrutura de telecomunicações, seus bilhões também foram lançados na vala comum do déficit público.

O leitor conhece, com certeza, outros casos de fundos e contribuições provisórias que jamais foram aplicados em sua finalidade legal. Ou de empréstimos compulsórios que nunca foram devolvidos aos contribuintes. Todos sabíamos que o tributo nascido para prover R$ 6 bilhões para a Saúde Pública, com o nome de Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) - não seria provisório nem se destinaria efetivamente àquele setor.

Todos os ministros das Comunicações - de Pimenta da Veiga a Eunício Oliveira - prometeram aplicar os bilhões do Fust na universalização das telecomunicações ou na inclusão digital. Mas não aplicaram. Agora é a vez do ministro Hélio Costa, que prometeu solenemente, ao inaugurar o evento Futurecom 2005, em Florianópolis, na semana passada, “desencantar o Fust”. Hélio Costa anunciou ainda que vai implantar a TV digital até junho de 2006. “Pelo menos em São Paulo, teremos a transmissão da Copa do Mundo em TV digital e imagens de alta definição” – garantiu. Grande humorista.

Por lei, os recursos do Fust “devem ser aplicados em programas, projetos e atividades que estejam em consonância com o plano geral de metas para universalização de serviço de telecomunicações ou suas ampliações.” Entre seus objetivos estão: a) atendimento a localidades com menos de 100 habitantes; 2) complementação do plano geral de metas de universalização, para atender a comunidades de baixo poder aquisitivo; 3) telefones individuais para prestação de serviço, em condições favorecidas, a escolas, hospitais e bibliotecas; 4) redes digitais de informação destinadas ao acesso público, inclusive à internet, em condições favorecidas, a hospitais e maternidades; 5) redes digitais de informação destinadas ao acesso público, inclusive da internet, em condições favorecidas, a escolas e bibliotecas; 6) redução das contas de serviços de telecomunicações de escolas e bibliotecas na utilização de serviços de redes digitais de informação que sirvam, de preferência, à população carente; 7) redes de alta velocidade, destinadas a serviços de teleconferência entre escolas e bibliotecas; 8) atendimento a áreas remotas e de fronteira de interesse estratégico; 9) implantação de telefones para órgãos de segurança pública; 10) serviços de telecomunicações em unidades do serviço público, civis ou militares, situadas em pontos remotos do território nacional; 11) linhas para instituições de assistência a deficientes; 12) linhas para deficientes carentes; 13) implantação da telefonia rural.

O Fust parece ter sido criado para que ninguém possa utilizá-lo, tal o emaranhado de exigências burocráticas que impõe para liberar seus recursos. Pior ainda: há juristas que o consideram inconstitucional, já que ele deveria ser destinado exclusivamente para a universalização da telefonia, como indica a Lei Geral de Telecomunicações (Lei 9472), com o objetivo central de levar telefonia a áreas pobres e populações de baixa renda. O Congresso, no entanto, incorporou à lei que criou o Fust dezenas de emendas, desfigurando o fundo de tal forma que ele hoje contempla mais de uma dúzia de serviços.

E agora, a grande surpresa: os R$ 4 bilhões do Fust não podem mais ser usados pelas telecomunicações. Tudo que se acumulou em cinco anos pode ter ido pelo ralo.

ETHEVALDO SIQUEIRA
esiqueira@telequest.com.br 


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