José Roberto de Souza Pinto

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Julho 2009                   Índice dos assuntos     


16/07/09

• Artigo de José Roberto S. Pinto no website do jornalista Ethevaldo Siqueira sobre a recriação da Telebrás: "Estado não deve voltar a ser operador"

Fonte: Website do jornalista Ethevaldo Siqueira
[16/07/09]  Estado não deve voltar a ser operador - por José Roberto de Souza Pinto*

A verdade é que, fruto de amplo debate sobre os caminhos a serem seguidos pelas telecomunicações no Brasil, escolhemos um, que está claro na Lei Geral de Telecomunicações (LGT): o Estado com a função de regulamentar e fiscalizar, e a iniciativa privada com a função de investir e prestar os serviços num regime de competição.

Sem dúvida foi uma tarefa enorme transformar um setor que era monopólio estatal num regime de competição pela iniciativa privada. Falta muito ainda por fazer, mas não acredito que seja tarefa para uma estatal.

Se formos verificar em algum detalhe da LGT, poderemos encontrar um espaço para o governo também participar na prestação de serviços de telecomunicações; afinal, até hoje temos aquele objeto estranho no setor, que é aquela empresa municipal de Londrina.

Vamos então às possíveis motivações:

1 - O cidadão consumidor não está sendo bem atendido. Neste caso, devemos avaliar em que serviços e por que isto está acontecendo. Existe um órgão regulador que foi criado com esta responsabilidade de gestão e fiscalização, além do Ministério das Comunicações, ao qual cabe formular a política do setor. Estas duas entidades podem exercer o seu poder e propor alternativas de solução. Desconheço que este tipo análise tenha sido realizado por estes órgãos e, se for feita, deverá ser pública.

2 - A questão é da banda larga que não está desenvolvendo-se no País. Neste caso, tenho de concordar, pois, com uma penetração do serviço de menos de 8% (se considerarmos as recentes soluções 3G), estamos muito longe dos países desenvolvidos. E não temos nenhuma dúvida sobre a importância deste segmento de serviço de telecomunicações para o desenvolvimento econômico e social e a competitividade do País. Mas, por que estamos nesta situação e não conseguimos traçar um caminho? Muitas vezes queremos traçar políticas sem saber o que realmente está acontecendo. Minha resposta a esta questão é que falta competição neste serviço e no setor existe uma enorme concentração. Portanto, precisamos de novas empresas competindo neste mercado. Parece-me que a agência reguladora deveria ter um plano para resolver esta questão, e não o Executivo recriar uma empresa estatal para exercer tal função.

3 - Em relação ao serviço prestado, novas tecnologias permitem que uma empresa preste o serviço ao cliente sem conhecê-lo. É tudo automático: você tem um serviço e nunca viu um profissional daquela empresa ou mesmo o uniforme, pois tudo está terceirizado. Eu sempre vejo um carro daqueles bem antigos, carregando uma escada – parece-me que são empregados da Siemens, mas não são. E também não são da prestadora de telecomunicações, são, na realidade terceirizados da terceirizada. Não sou contra a terceirização, mas o prestador de serviço deve ter capacidade de gestão do processo e, principalmente, domínio técnico sobre os recursos que estão sendo utilizados. Parece, pelos recentes casos frequentes de falhas destas grandes operadoras, que isto não está acontecendo. Neste caso, se tivéssemos competição e um ambiente menos concentrado, o estrago seria muito menor e o cliente teria a alternativa de trocar de prestadora. Esta questão da competição é muito interessante, pois o maior motivador para o empresário investir no atendimento ao cliente é o risco de perdê-lo ou de perder mercado. Esta, em síntese, tem sido minha mensagem quando comento sobre a questão. Apesar de reconhecer que empresas de grande porte são importantes para o desenvolvimento do setor, elas não podem ficar tão distantes dos seus clientes. Existem, portanto, caminhos já adotados em outros países de divisão da venda no atacado e no varejo, com processos de revenda, entre outros, que permitem que o prestador de serviço esteja mais próximo do cliente e que este cliente consumidor tenha escolha.

4 - Outra motivação para recriar a Telebrás seria ter o controle total da rede e dos serviços de telecomunicações que o governo usa para as suas atividades. Diria tarefa impossível, e de rápida desatualização. Quando tínhamos o Sistema Telebrás, naquela época com excelentes profissionais, já era difícil; agora, com o mundo rodando mais depressa, não sei como fariam. A verdade é que acompanhar esta dinâmica do setor requer uma atualização constante dos profissionais e das redes que suportam os serviços. A rede de uma estatal estaria desatualizada rapidamente e iria requerer novos investimentos. Aí, então, vem a outra questão sobre as prioridades de investimentos do governo. Certamente não precisamos falar das deficiências de nossas estradas, portos, escolas, hospitais etc. Qualquer recurso alocado em telecomunicações seria tirado do mesmo bolo. Finalmente, a questão do custo do governo em serviços de telecomunicações poderia ser mais bem administrada se o mercado tivesse alternativas competitivas, o que certamente levaria a um custo menor de serviços por parte do governo.

5 - Geração de emprego só para os amigos: quanto a esta motivação, não tenho como contra-argumentar, pois a Telebrás recriada tem um potencial enorme de novos cargos de direção, o que geraria uma vasta oferta para ser negociada com os partidos da base do governo que estiver no poder.

* José Roberto de Souza Pinto é engenheiro, mestrando em economia e consultor.


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