José Ribamar Smolka Ramos
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Junho 2011               Índice Geral



21/06/11

• Palestra de Michael Crichton traduzida por José Smolka : "Extraterrestres são a causa do aquecimento global"

Nota de Helio Rosa:
Divulgamos, no dia 17, um email de José Smolka para nossos Grupos de Debates:
Mensagem de José Smolka: OMS chama atenção para relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer

No texto Smolka cita uma palestra de Michael Crichton: Aliens Cause Global Warming.
Recorto o trecho:
(...)
Não se trata de fingir que o problema não existe, mas tampouco é o caso de presumir um problema sem evidência concreta. Todas as vezes que grandes interesses políticos ou econômicos se misturam com a ciência, quem sai perdendo é esta última. Especialmente nestes nossos dias onde pesquisadores acostumaram-se a ter tratamento (e orçamento de pesquisa) dignos de pop star, bem como a noção de que a existência de um "consenso" na comunidade científica é, por si só, garantia de boa ciência.
A condenação mais veemente que já vi a esta forma de atuação pseudo-científica foi feita por Michael Crichton na sua Michelin Lecture proferida no CalTech (California Institute of Technology) em 17/01/2003, intitulada
Aliens Cause Global Warming. (...)

Boa leitura!
HR

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Extraterrestres São a Causa do Aquecimento Global

Palestra Michelin, CalTech – 17 de janeiro de 2003

Michael Crichton1

Meu tema para hoje parece engraçado, mas, infortunadamente, estou falando sério. Vou defender a seguinte tese: os extraterrestres estão por trás do aquecimento global. Ou, para ser mais preciso, vou provar que a crença na existência de seres extraterrestres abriu caminho, em uma série de etapas, para a crença no aquecimento global.

Explicar esta progressão de ideias é a minha tarefa de hoje. Deixem-me adiantar que não pretendo desencorajar ninguém a acreditar em extraterrestres ou no aquecimento global. Isto seria praticamente impossível de conseguir.

Em vez disso quero discutir a história de várias crenças amplamente conhecidas e apontar para o que considero uma crise com o potencial de afetar todas as atividades científicas: o crescente desconforto no relacionamento entre a verdadeira ciência e as políticas públicas.

Tenho especial interesse neste tema por causa da minha história de vida. Eu nasci no meio da segunda guerra mundial, e passei meus anos de escola durante o auge da guerra fria. Nos exercícios de preparação para uma possível guerra eu, diligentemente, rastejava para baixo da minha carteira para proteger-me de um possível ataque nuclear.

Era um tempo de medo e incerteza disseminados, mas mesmo ainda criança eu acreditava que a ciência representava a maior e melhor esperança da humanidade. Mesmo para uma criança havia um claro contraste entre o mundo da política – um mundo de ódio e perigo, de crenças irracionais e medos, de manipulação das massas e indeléveis manchas na história humana – e o mundo da ciência. A ciência, em oposição, prezava valores muito diferentes. Com alcance internacional, forjando amizades e relacionamentos profissionais através das fronteiras nacionais e dos sistemas políticos, encorajando hábitos de pensamento desapaixonados e levando, ao final, a novos conhecimentos e tecnologias que beneficiariam toda a humanidade.

O mundo podia não ser muito bom, mas a ciência o faria melhor. E fez. No meu tempo de vida a ciência cumpriu amplamente a sua promessa. A ciência tem sido a grande aventura intelectual de nossa era, e uma grande esperança para o nosso mundo problemático e inquieto. Mas eu não esperava que a ciência simplesmente nos proporcionasse longevidade, alimentasse os famintos, curasse as doenças e reduzisse as distâncias com os aviões a jato e os telefones celulares.

Eu também esperava que a ciência banisse os males do pensamento humano: preconceito e superstições, crenças irracionais e falsos medos. Eu esperava que a ciência fosse, como na frase memorável de Carl Sagan, “uma luz em um mundo assolado por demônios”. E nisto eu não fico satisfeito com o resultado obtido pela ciência. Em vez de ser uma força purificadora, em alguns casos a ciência se deixou seduzir pelos apelos ancestrais da política e da publicidade.

Alguns dos demônios que vem assolando o mundo nos anos recentes foram inventados por cientistas. E o mundo não se beneficiou ao permitir que estes demônios ficassem em liberdade. Vejamos com isto aconteceu.

Voltemos a 1960. John F. Kennedy era o presidente, aviões comerciais movidos a jato tinham acabado de aparecer, os maiores mainframes das universidades tinham 12K de memória, e em Green Bank, na Virgínia ocidental, no novo Observatório Nacional de Rádio Astronomia, um jovem astrofísico chamado Frank Drake trabalhava em um projeto de duas semanas de duração chamado Ozma, para procurar por sinais de inteligência extraterrestre. Um sinal foi detectado, gerando grande excitação. Era um alarme falso, mas a excitação permaneceu.

Ainda em 1960 Drake organizou o primeiro congresso SETI2, onde ele apresentou a agora famosa equação Drake

N = Ns x Fp x Ne x Fl  x Fi x Fc x Fv

Onde Ns é o número de estrelas na Via Láctea, Fp é a fração do número de estrelas com planetas, Ne é o número médio de planetas por estrela capazes de suportar vida, Fl é a fração do número de planetas onde a vida evoluiu, Fi é a fração do número de planetas onde vida inteligente se desenvolveu, Fc é a fração destas inteligências que desenvolveu meios de comunicação, e Fv é a fração do período de vida do planeta durante o qual vive a civilização que se comunica.

Esta equação de aparência séria deu respaldo à noção que o SETI era um empreendimento intelectual legítimo. O problema, claro, é que nenhum dos seus termos pode ser determinado, e muitos não podem sequer ser estimados. A única maneira de usar a equação é fazer suposições. E suposições – sejamos bem claros – são meras expressões de preconceito.

Não existem “suposições bem embasadas”. Se você precisa dizer quantos planetas contém civilizações que decidem se comunicar, simplesmente não existe maneira de fazer uma suposição com base. É puro preconceito.

Como resultado, a equação Drake pode assumir qualquer valor, desde “bilhões e bilhões” até zero. E uma expressão que pode significar qualquer coisa não significa nada. Falando claramente: a equação Drake é literalmente sem sentido, e não tem nada a ver com ciência. Eu adoto o ponto de vista objetivo que ciência envolve a criação de hipóteses verificáveis. A equação Drake não pode ser verificada, portanto o SETI não é ciência. O SETI é, inquestionavelmente, uma religião.

Fé é  definida como a firme crença em algo para o qual não existe prova. A crença que o Corão é a palavra de Deus é matéria de fé. A crença que Deus criou o universo em sete dias é matéria de fé. A crença que existem outras formas de vida no universo é matéria de fé. Não existe nenhum fragmento de prova da existência de quaisquer outras formas de vida além da nossa, e em quarenta anos de busca nenhuma foi encontrada. Não existe absolutamente nenhuma evidência para suportar esta crença. O SETI é uma religião.

Uma forma de mostrar como o entusiasmo por esta ideia foi arrefecendo é procurar por publicações de cunho popular sobre este assunto. Em 1964, no auge do entusiasmo a respeito do SETI, Walter Sullivan, do New York Times, escreveu um livro apaixonado sobre a possibilidade de vida no universo, intitulado Não Estamos Sós. Em 1995, quando Paul Davis escreveu um livro sobre o mesmo assunto, ele o intitulou Estamos Sós? Na verdade, desde 1981 foram publicados quatro livros intitulados Estamos Sós? Mais recentemente surgiu a assim chamada teoria da terra rara3, que sugere que nós podemos, de fato, estar sozinhos.

E, ainda assim, neste assunto não existe prova conclusiva em nenhuma direção.

Voltando aos anos sessenta. O SETI tinha críticos, embora não entre os astrofísicos e astrônomos. Os biólogos e paleontologistas eram os mais enfáticos. George Gaylord Simpson, de Harvard, comentou sarcasticamente que o SETI era um “estudo sem um sujeito”, e mantém esta opinião até hoje. Mas os cientistas, em geral, tem sido indulgentes com relação ao SETI, vendo-o ora com divertida tolerância, ora com indiferença. Afinal, que mal há nisso? É até meio divertido. Se eles querem procurar, que procurem! Alguém tinha que ser muito ranzinza para falar mal do SETI. Não valia o incômodo.

E é claro que teorias não testáveis podem ter valor heurístico. É claro que extraterrestres são um bom pretexto para ensinar ciência às crianças. Mas isto não nos livra da obrigação de enxergar a equação Drake pelo que ela realmente é: pura especulação em um disfarce quase científico.

O fato da equação Drake não ter sido recebida com gritos de indignação, similares aos que saúdam cada nova alegação criacionista, por exemplo, significa que agora há uma brecha na porta, um afrouxamento na definição do que constitui procedimento científico legítimo. E rapidamente lixo pernicioso começou a infiltrar-se pelas frestas.

Vamos agora pular uma década adiante, para os anos 70 e o inverno nuclear. Em 1975 a Academia Nacional de Ciências publicou o relatório Efeitos Mundiais a Longo Prazo de Múltiplas Detonações Nucleares, que estimou que o efeito da poeira levantada pelas explosões nucleares era relativamente menor.

Em 1979 o Gabinete de Avaliação de Tecnologias (OTA4) emitiu o relatório Os Efeitos da Guerra Nuclear, que afirmava que uma guerra nuclear poderia, talvez, causar consequências adversas irreversíveis ao meio ambiente. Entretanto, como os processos científicos envolvidos não eram bem compreendidos, o relatório declarou que não era possível estimar a magnitude provável destes danos.

Três anos depois, em 1982, a Academia Sueca de Ciências publicou um relatório intitulado A Atmosfera Após a Guerra Nuclear: Crepúsculo ao Meio-Dia, que tentava quantificar o efeito da fumaça emitida por florestas e cidades incendiadas. Os autores especularam que haveria tanta fumaça que seria formada uma nuvem sobre o hemisfério norte, reduzindo a incidência de luz solar na superfície a níveis inferiores aos requeridos para a ocorrência de fotossíntese, e que isto duraria por semanas, ou talvez mais tempo ainda.

No ano seguinte cinco cientistas, incluindo Richard Turco e Carl Sagan, publicaram um artigo na revista Science chamado Inverno Nuclear: Consequências Globais de Múltiplas Explosões Nucleares. Ele ficou conhecido como o relatório TTAPS5, que tentou quantificar os efeitos atmosféricos de modo mais rigoroso, angariando credibilidade adicional por utilizar um modelo climático gerado por computador.

No coração do trabalho realizado no TTAPS estava outra equação, nunca expressa formalmente, mas que pode ser parafraseada da seguinte forma: 

A quantidade de poeira troposférica é igual ao número de ogivas detonadas, vezes a potência média de cada ogiva detonada, vezes a altura média de ocorrência das detonações, vezes o potencial inflamável dos alvos, vezes o tempo médio de queima dos alvos, vezes a fração das partículas que chegam à troposfera, vezes a refletividade média das partículas, vezes a persistência média das partículas em suspensão, vezes... E assim por diante.

A semelhança com a equação Drake é impressionante. E, assim como na equação Drake, nenhuma das variáveis pode ser determinada. Nem ao menos uma. O estudo TTAPS atacou este problema, em parte, estabelecendo diversos cenários de guerra, atribuindo valores diferentes a algumas variáveis para cada um deles. Mas, ainda assim, as variáveis remanescentes eram – e ainda são – simplesmente impossíveis de determinar. Ninguém sabe quanta fumaça será gerada pela queima das cidades, criando partículas de quais tipos e por quanto tempo. Ninguém sabe como as condições climáticas locais afetam a quantidade de partículas que conseguem chegar à troposfera. Ninguém sabe por quanto tempo estas partículas permanecerão em suspensão. Podemos prosseguir indefinidamente.

E, lembrem-se, isto foi apenas quarto anos depois que o estudo do OTA ter concluído que os processos científicos subjacentes eram tão mal compreendidos que estimativas confiáveis não poderiam ser feitas.

Não obstante, o estudo TTAPS não apenas fez estas estimativas, mas também concluiu que elas eram catastróficas. De acordos com Sagan e seus colaboradores, mesmo uma guerra nuclear limitada, com explosões somando 5.000 megatons, causaria uma queda da temperatura média global maior que 35 graus centígrados, e isto duraria por três meses.

As maiores erupções vulcânicas conhecidas mudaram a temperatura média global entre 0,5 e 2 graus centígrados. As eras glaciais mudaram a temperatura média global em 10 graus. E agora temos uma mudança estimada que é três vezes maior que a de uma era glacial.

Era esperado que isto fosse objeto de muita discussão, Mas Sagan e seus colaboradores estavam preparados, porque, desde o início, o inverno nuclear foi objeto de uma bem orquestrada campanha publicitária. O primeiro anúncio do inverno nuclear apareceu em um artigo de Sagan em um suplemento dominical chamado Parade. No dia seguinte ocorreu em Washington, com ampla cobertura da imprensa, uma conferência de alto nível sobre as consequências de longo prazo da guerra nuclear, presidida por Carl Sagan e Paul Ehrlich, os cientistas mais famosos e midiáticos da sua geração.

Sagan apareceu no show de Johnny Carson 40 vezes. Ehrlich esteve lá 25 vezes. Após a conferência houveram entrevistas coletivas, encontros com congressistas, e assim por diante. Os artigos formais na revista Science só apareceram meses depois.

Esta não  é a maneira pela qual a ciência é feita. Esse é o modo pelo qual produtos são vendidos. A real natureza da conferência é indicada pelas ilustrações artísticas sobre os efeitos do inverno nuclear6.

Não consigo resistir ao comentário da figura 5: “aqui é mostrada uma cena tranquila das florestas boreais. Um castor acabou de completar a sua barragem, dois ursos negros procuram por comida, uma borboleta esvoaça em primeiro plano, ao lado temos uma mobelha nadando tranquilamente, e um martim-pescador procura por um saboroso peixe”. Pura ciência, da melhor espécie.

Durante a fase de perguntas e respostas da conferência de Washington lembraram a Ehrlich que, depois de Hiroshima e Nagasaki, cientistas declararam que nada poderia viver lá durante 75 anos, mas já no ano seguinte houve produção de melões. Então, perguntaram, qual a precisão destes resultados de agora?

Ehrlich respondeu da seguinte forma: “Eu acho que são extremamente sólidas. Cientistas podem ter dado declarações como essas, embora eu não saiba com que base, considerando o conhecimento científico da época. Mas os cientistas estão sempre dando declarações individuais absurdas aqui e acolá. O que nós estamos fazendo aqui, entretanto, é apresentar o consenso de um grande grupo de cientistas”.

Quero fazer uma pausa aqui e falar sobre esta noção de consenso, e a aparição da assim chamada ciência de consenso. Eu considero a ciência de consenso um desdobramento extremamente pernicioso, e que deve ser impedido de prosseguir. Historicamente as alegações de consenso sempre foram o refúgio dos desonestos. É uma maneira de evitar o debate pela alegação que o assunto já está resolvido. Sempre que você ouvir que o consenso dos cientistas concorda com isto ou aquilo, cuidado com a sua carteira, porque estão metendo a mão nela.

Sejamos claros: o trabalho da ciência não tem nada a ver com consensos. Construção de consenso é o negócio da política. A ciência, ao contrário, precisa apenas de um(a) pesquisador(a) que esteja certo, o que significa que os seus resultados são verificáveis e servem de referência para o mundo real.

Para a ciência o consenso é irrelevante. O que é relevante são resultados reproduzíveis. Os grandes cientistas da história são grandes justamente porque eles divergiram dos consensos estabelecidos. Não existe isso de ciência de consenso. S é consenso, então não é ciência, e se é ciência então não é consenso, e ponto final.

Adicionalmente quero recordar a vocês que o desempenho das opiniões de consenso não é motivo para orgulho. Vamos revisar alguns casos.

Nos séculos passados a grande matadora de mulheres era a febre que se seguia ao nascimento das crianças. Uma em cada seis mulheres morriam desta febre.

Em 1795 Alexander Gordon, de Aberdeeen, Escócia, sugeriu que a febre era um processo infeccioso, e que ele era capaz de curá-lo. O consenso disse não.

Em 1843 Oliver Wendell Holmes propôs que a febre puerperal era contagiosa, e apresentou evidências contundentes disso. O consenso disse não.

Em 1849 Semmelweiss demonstrou que medidas sanitárias virtualmente eliminaram a ocorrência de febre puerperal nos hospitais sob sua administração. O consenso disse que ele era um judeu, ignorou-o e demitiu-o do seu posto. Na verdade não houve acordo com relação à febre puerperal até o início do século vinte, portanto o consenso estabelecido levou cento e vinte e cinco anos para chegar à conclusão certa, apesar dos esforços de eminentes “céticos” ao redor do mundo, que foram menosprezados e ignorados. E isso apesar da contínua série de mortes de mulheres.

Não há  escassez de outros exemplos. Nos anos 20 na América dezenas de milhares de pessoas, a maioria pobre, morriam de uma doença chamada pelagra. O consenso dos cientistas dizia que era uma doença infecciosa, e que era necessário encontrar o “micróbio da pelagra”. O governo dos Estados Unidos encarregou um jovem e brilhante pesquisador, o doutor Joseph Goldberger, para encontrar a causa da doença. Ele concluiu que o fator decisivo era a dieta dos pacientes. O consenso permaneceu agarrado à teoria do micróbio.

Goldberger demonstrou que ele era capaz de induzir a doença através da dieta. Ele demonstrou que a doença não era infecciosa injetando o sangue de um paciente de pelagra em si mesmo e no seu assistente. Ele, e outros voluntários, esfregaram em seus narizes chumaços de algodão que haviam sido esfregados em pessoas com pelagra, e engoliram cápsulas contendo raspas da descamação da pele causada pela pelagra, em apresentações que ficaram conhecidas como as “festas nojentas do Goldberger”. Ninguém contraiu pelagra desta forma

O consenso continuou discordando dele. Ainda por cima existia um fator social: os estados do sul não gostavam da ideia que uma dieta pobre fosse a causa da doença, porque isso significaria a necessidade de reformas sociais. Eles continuaram negando os fatos até o final dos anos 20. Resultado: apesar de uma epidemia em pleno século vinte, o consenso demorou anos para enxergar a luz.

Qualquer aluno do ensino fundamental provavelmente já notou que a América do Sul e a África parecem encaixar-se como peças de um quebra-cabeças, e Alfred Wegener propôs, em 1912, que os continentes de fato se afastavam. O consenso esnobou a teoria da deriva continental por cinquenta anos. A teoria foi refutada vigorosamente por muitos grandes nomes da geologia até 1961, quando apareceram evidências que o havia formação de solo novo no fundo dos oceanos. Resultado: o consenso levou cinquenta anos para reconhecer o que qualquer estudante consegue ver.

Ainda preciso continuar? Os exemplos se multiplicam indefinidamente. Jenner e a varíola, Pasteur e a teoria dos micróbios, Sacarina, margarina, memórias reprimidas, fibras e câncer de cólon, terapia de reposição hormonal. A lista dos erros do consenso segue sem fim.

Finalmente que vocês prestem atenção para as situações onde o consenso é invocado. Isto só acontece naqueles casos onde a ciência não é sólida o suficiente.

Ninguém alega que existe um consenso entre os cientistas de que . Ninguém diz que é consenso que o Sol esteja a 93 milhões de milhas de nós. Nunca ocorreria a ninguém usar este tipo de argumento.

Mas vamos voltar ao assunto. O que eu estou sugerindo a vocês é que o inverno nuclear é uma fórmula sem sentido, má ciência que foi passada adiante para fins políticos. Tudo era político desde o início, apoiado por uma bem azeitada campanha promocional que foi planejada com semanas ou meses de antecedência.

Evidência adicional da natureza política de todo o projeto pode ser encontrada nas respostas dadas aos críticos. Embora Richard Feynman tenha sido direto e seco, como era sua característica, ao dizer “eu não creio que esses caras realmente saibam do que estão falando”, outros cientistas de renome foram notavelmente reticentes. Freeman Dyson declarou que “é um trabalho científico absolutamente atroz, mas quem quer ser acusado de estar a favor da guerra nuclear?” E Victor Weisskopf disse que “a ciência é terrível, mas talvez seja boa psicologia”.

O time do inverno nuclear respondeu à publicação deste tipo de comentário com cartas aos editores negando que tais declarações tenham sido realmente feitas, muito embora os cientistas que as fizeram tenham, subsequentemente, confirmado seus pontos de vista. Na época existia um desejo compartilhado por muitas pessoas de evitar uma guerra nuclear. Se o inverno nuclear parecia horrível, porque investigar tão a fundo? Quem queria discordar? Apenas gente como Edward Teller, o “pai da bomba H”.

Teller disse que “embora seja geralmente reconhecido que os detalhes são incertos e merecem muito estudo adicional, o Dr. Sagan não hesitou em adotar a posição que todo este cenário é tão robusto que só pode haver muito pouca dúvida a respeito das suas principais conclusões”.

Embora para muitas pessoas o fato do inverno nuclear ser um cenário coalhado de incertezas não pareça ter a menor importância, eu digo que isto é  imensamente relevante. Uma vez que abandonemos a estrita aderência aos bons princípios da ciência, uma vez que comecemos a obter a verdade em conferências de imprensa, então tudo é possível.

Em um contexto talvez você consiga alguma mobilização contra a guerra nuclear. Mas em outro contexto você acaba no Lysenkoísmo. Em outro você tem a eutanásia nazista. O perigo está sempre lá, se você subverter a ciência para fins políticos.

Por isso é  tão importante para o futuro da ciência que a linha entre o que ela é capaz de dizer com certeza e o que ela não pode seja traçada com clareza – e defendida.

O que aconteceu com a teoria do inverno nuclear? Com a diminuição da atenção da mídia o seu cenário robusto começou a parecer cada vez menos persuasivo. John Maddox, editor da revista Nature criticou repetidamente as suas conclusões. Um ano após Stephen Schneider, uma das figuras de proa do modelo climático, começou a falar em “outono nuclear”. Não tinha o mesmo apelo.

O ultimo fiasco na mídia ocorreu em 1991, quando Carl Sagan previu, no programa Nightline, que o incêndio dos poços de petróleo do Kuwait poderiam criar um efeito semelhante ao inverno nuclear, causando um “ano sem verão” e ameaçando as colheitas agrícolas ao redor do mundo. Sagan enfatizou que este resultado era tão provável que “deveria ser levado em conta no planejamento da guerra”. Nada disso aconteceu.

Que lições aprendemos, então com a história do inverno nuclear? Acredito que a principal lição é: com um nome sonoro, uma posição política forte e uma campanha de mídia agressiva ninguém ousará criticar os aspectos científicos frágeis e, em pouco tempo, uma teoria que sofre de fraqueza terminal passará a ser reconhecida como fato cientificamente estabelecido.

Depois disso não importa mais qualquer crítica. A guerra já acabou antes que fosse disparado o primeiro tiro. Esta é a lição, e nós tivemos uma aplicação clássica dela logo depois, com o caso do fumo passivo.

Em 1993 a EPA7 anunciou que o fumo passive era “responsável por aproximadamente 3.000 mortes por câncer do pulmão, a cada ano, entre adultos não fumantes”, e que ela “diminui a saúde do aparelho respiratório de centenas de milhares de pessoas”. Em um panfleto de 1994 a EPA disse que os onze estudos nos quais ela baseou sua decisão não eram conclusivos por si sós, e que eles atribuíam ao fumo passivo, coletivamente, um fator de risco de 1,19 (para referência: um fator de risco inferior a 3,0 é muito pouco para justificar alguma ação por parte da EPA, ou para publicação no New England Journal of Medicine, por exemplo).

Além disso, como não havia associação estatística no nível de confiança de 95%, a EPA baixou o limite de aceitação para 90%, e então eles classificaram o fumo passivo como um carcinógeno do grupo A.

Isto é  ciência abertamente fraudulenta, mas formou a base para a proibição do fumo em restaurantes, escritórios e aeroportos. O estado da Califórnia baniu o fumo em lugares públicos em 1995. E logo nenhuma afirmação era extremista demais. Em 1998 o Christian Science Monitor afirmou que “o fumo passivo é a terceira mais importante causa prevenível de mortes a nível nacional”. A American Cancer Society anunciou que 53.000 pessoas morriam a cada ano por causa do fumo passivo. E não existe nenhuma evidência suportando estas afirmações.

Em 1998 um juiz federal concluiu que a EPA tinha agido impropriamente, tendo “chegado a uma conclusão antes que a pesquisa começasse”, e que ela tinha “desconsiderado informação relevante e publicado achados com base em informação escolhida seletivamente”.

A reação de Carol Browner, diretora da EPA, foi: “Nós apoiamos os nossos cientistas; existe um amplo entendimento. O povo americano certamente reconhece que a exposição ao fumo passivo traz todo um rol de problemas de saúde”.

Reparem, novamente, como o apelo ao consenso passa por cima da ciência. E, neste caso, não é nem mesmo um consenso dos cientistas que Browner invoca! É o consenso do povo americano.

Enquanto isso estudos cada vez mais amplos falharam em confirmar qualquer associação. Um grande estudo conduzido pela OMS em sete países em 1998 não encontrou nenhuma associação. Nem nenhum dos estudos bem controlados efetuados posteriormente, que eu tenha conhecimento. Ainda assim nós lemos hoje em dia que, por exemplo, o fumo passivo causa câncer de mama. A esta altura você pode dizer qualquer coisa que quiser sobre o fumo passivo.

Assim como no caso do inverno nuclear, má ciência é usada para promover o que a maioria das pessoas considera uma boa política. Eu certamente acho que é uma boa política. Eu não quero pessoas fumando próximas de mim. Então, quem vai falar contra o banimento do fumo passivo? Ninguém. E se você fizer isso vai ser acusado de ser promotor de vendas da R. J. Reynolds, de ser um grande lacaio da indústria do tabaco. Mas a verdade é que agora nós temos uma política social suportada na mais grossa superstição.

E nós demos um péssimo exemplo de comportamento para a EPA. Nós dissemos a eles que a fraude é um meio válido para o sucesso.

Enquanto o século vinte se aproximava do fim, a conexão entre fato científico e políticas públicas foi se tornando cada vez mais elástica. Isto foi possível, em parte, por causa da complacência dos profissionais da ciência; em parte pela falta de boa educação científica básica da maioria da população; em parte pela ascensão de grupos de pressão especializados, capazes de obter publicidade e de moldar as políticas; e, na maior parte, pelo declínio da mídia no papel de avaliador independente dos fatos.

A deterioração da mídia americana é uma grave perda para o nosso país. Quando instituições de destaque como o New York Times não conseguem mais diferenciar entre conteúdo fatual e opinião editorial, misturando os dois livremente na sua primeira página, então quem poderá  cobrar altos padrões morais a quem quer que seja?

E assim, neste mundo de aceitação cada vez mais elástica de tudo, onde a ciência – ou não-ciência – é a dama de companhia de políticas públicas questionáveis, chegamos enfim ao aquecimento global. Não pretendo, aqui, repassar os detalhes deste que certamente é o mais magnificente dos demônios que assolam este mundo. Vou apenas lembrá-los do padrão, agora já familiar, pelo qual tais coisas foram se estabelecendo.

Primeiro, incertezas nas evidências são tratadas de forma superficial, em uma pressa inapropriada na busca por uma política ultra-abrangente, e por verbas de suporte a pesquisas que suportem as políticas pela produção dos resultados desejados pelos seus patronos.

A seguir, o isolamento daqueles cientistas que não se alinham com o programa, e a sua caracterização como não-especialistas no assunto e “céticos” entre aspas – indivíduos suspeitos, com motivações suspeitas, capachos da indústria, reacionários ou, simplesmente, casos patológicos de insensibilidade ambiental.

Em pouco tempo cessa o debate, mesmo que cientistas de projeção sintam-se desconfortáveis com a forma que as coisas estão acontecendo. Quando foi que a palavra “cético” se tornou um insulto no ambiente da ciência? Desde quando um cético passou a ter que estar entre aspas?

Para um observador externo a inovação mais significativa na controvérsia sobre o aquecimento global é a confiança irrestrita que está sendo colocada nos modelos computadorizados. Lá nos tempos do inverno nuclear modelos computadorizados eram invocados para dar mais peso a uma conclusão: “estes resultados foram obtidos com a ajuda de um modelo computadorizado”.

Mas agora os modelos computadorizados em larga escala são vistos como capazes de gerar eles próprios os dados necessários. Modelos não são mais avaliados pela fidelidade de reprodução dos dados do mundo real – cada vez mais são os modelos que fornecem os dados.

Como se eles fossem uma realidade autônoma. E, na verdade, eles são: quando estamos projetando à frente. Não existem dados observacionais sobre o ano 2100. Existem apenas os resultados gerados pelos modelos. Essa fascinação por modelos computacionais é algo que eu entendo muito bem.

Richard Feynman os chamava de uma doença. E eu temo que ele esteja certo, porque somente se você passa muito tempo olhando para a tela de um computador você pode chegar ao ponto de complexidade onde se encontra, hoje, o debate sobre o aquecimento global. Ninguém acredita em uma previsão do tempo para daqui a doze horas, e agora nos pedem que acreditemos em previsões que extrapolam para 100 anos no futuro?

E tomar decisões de investimento com base nestas previsões? Será que todo mundo ficou maluco?

Olhando para o passado eu me sinto obrigado a dizer que a arrogância dos responsáveis pela criação destes modelos é de tirar o fôlego. Sempre existiram, em todos os séculos, cientistas que achavam que já sabiam tudo. Como o clima pode ser um sistema caótico – ninguém tem certeza disso – essas previsões são, sendo educado, inerentemente duvidosas. Mas o ponto central é: mesmo que os modelos representassem a ciência corretamente, eles nunca poderão representar a sociologia. Fazer previsões sobre como será o mundo daqui a cem anos é simplesmente absurdo.

Vejam só: se eu estivesse vendendo ações de uma companhia que só começaria a apresentar lucro em 2100 vocês comprariam? Ou vocês acharia a ideia tão absurda que só poderia ser um golpe?

Pensem nas pessoas lá atrás em 1900 em, digamos, Nova York. Se eles estivessem pensando sobre como viveriam as pessoas no ano 2000, no que eles estariam preocupados? Provavelmente algo como: onde as pessoas vão conseguir tantos cavalos? E como eles vão se livrar de toda a m... que os cavalos vão gerar?

A poluição equina era um problema sério em 1900. Imagine como ficaria pior dali a cem anos, com tantas pessoas cavalgando? Mas, é claro, dentro de uns poucos anos ninguém mais cavalgava, a não ser por esporte.

E, em 2000, a França está obtendo 80% das suas necessidades de energia de uma fonte que era desconhecida em 1900. Alemanha, Suíça, Bélgica e Japão obtém mais de 30% da sua energia desta fonte desconhecida em 1900. Lembrem-se: as pessoas em 1900 não sabiam o que era um átomo.

Eles não conheciam a estrutura atômica. Também não sabiam o que era um rádio, ou um aeroporto, ou um filme, ou televisão, computador, telefone celular, aviões a jato, antibióticos, foguetes, satélites artificiais, ressonância magnética, UTI, DIU, IBM, IRA, ETA, EPA, IRS8, DoD9, PCP, html, Internet, interferon, replay instantâneo, sensoriamento remoto, controle remoto, discagem automática, terapia genética, engenharia genética, genes, transtorno bipolar, Prozac, maiôs, e-mail, gravadores de fita magnética, CDs, airbags, explosivo plástico, plástico, robôs, carros, lipoaspiração, transdução, supercondução, antenas parabólicas, ginástica aeróbica, vitaminas, programa dos doze pontos, ultrassom, nylon, rayon, teflon, fibras ópticas, LER10, cirurgia a laser, laparoscopia, transplante de córnea, transplante de rim, AIDS. Nada disso tinha qualquer significado para as pessoas em 1900. Eles simplesmente não iriam saber do que você estava falando.

E agora querem me dizer que vão prever o estado do mundo em 2100? Me digam se isto sequer vale o esforço de pensar a respeito. Nossos modelos apenas transportam o presente para o futuro, e assim estão fadados ao fracasso. Qualquer um, após pensar um pouco, concordará com isto.

Lembro a vocês que, durante o tempo de vida dos cientistas que estão aí, nós já tivemos exemplos de previsões catastróficas que não se concretizaram graças ao surgimento de novas tecnologias. Eu me refiro à revolução verde. Em 1960 Paul Ehrlich disse que “a guerra para alimentar a humanidade acabou. Nos anos 70 o mundo sofrerá com a fome. Centenas de milhões de pessoas irão morrer de inanição.

Dez anos depois ele previu que quarto bilhões de pessoas morreriam nos anos 80, incluindo aí 65 milhões de americanos. A fome em grandes proporções que foi prevista nunca ocorreu, e parece que não vai mais ocorrer. Nem a explosão populacional atingirá os níveis previstos apenas dez anos atrás.

Em 1990 os modeladores climáticos anteciparam uma população mundial de 11 bilhões para o ano 2100. Hoje algumas pessoas acham que o número correto será  7 bilhões, e caindo. Mas ninguém tem certeza. É impossível ignorar como o aquecimento global se encaixa no padrão de comportamento do inverno nuclear.

Da mesma forma que os primeiros estudos sobre o inverno nuclear afirmaram que as incertezas eram tão grandes que probabilidades confiáveis não podiam ser determinadas, também os primeiros pronunciamentos sobre o aquecimento global apontaram severos limites ao que pode ser determinado com certeza sobre a mudança no clima.

Em 1995 o relatório preliminar do IPCC11 dizia que “quaisquer alegações sobre a detecção de sinais significativos de mudança climática provavelmente permanecerão controversos até que todas as variabilidades naturais do sistema climático sejam reduzidas”. Também dizia que “nenhum estudo, até hoje, conseguiu atribuir, no todo ou em parte, as mudanças climáticas observadas a causas antropogênicas”.

Estas afirmações foram removidas, e em seu lugar apareceu o seguinte: “o balanço das evidências sugere uma discernível influência humana no clima”. O que está claro, no entanto, é que, neste assunto, ciência e política tornaram-se inextricáveis ao ponto de ser muito difícil, senão impossível, separá-las. Observadores externos podem, possivelmente, fazer perguntas sérias sobre a condução das pesquisas do aquecimento global, tais como se estamos tomando as devidas precauções para aumentar a qualidade dos nossos dados observacionais, ou se temos algum órgão isento para direcionar a pesquisa nesta área conflituosa.

A resposta a estas perguntas é não. Quando penso a respeito de como estas questões podem ser resolvidas, me ocorre que esta progressão do SETI para o inverno nuclear, daí para o fumo passivo e chegando ao aquecimento global, nós temos uma mensagem bem clara: podemos esperar mais e mais problemas com as políticas públicas que lidam com assuntos técnicos no futuro. Problemas de seriedade cada vez maior, e onde as pessoas tomam posições apaixonadas de ambos os lados.

E, no momento, nós não temos mecanismos para obter boas respostas, portanto eu vou propor um. Assim como estabelecemos a tradição do uso de pesquisas duplo-cego12 para determinar a eficiência dos remédios, também temos que instituir pesquisas duplo-cego nas áreas que envolvem políticas públicas. Certamente a intensificação do uso de modelos computadorizados, tais como os modelos climáticos globais, exige a separação entre aqueles que desenvolvem os modelos e aqueles que verificam a sua validade.

O fato é  que a presente estrutura da ciência é baseada no empreendedorismo, com as várias equipes de pesquisa disputando o acesso a financiamento por organizações que, frequentemente demais, tem um interesse declarado no resultado da pesquisa – ou parecem ter, o que é tão ruim quanto. Isto não é saudável para a ciência.

Mais cedo ou mais tarde nós termos que criar um instituto de pesquisa independente neste país. Ele deve ser financiado pela indústria, pelo governo e pela filantropia privada, tanto individual quanto institucional. O dinheiro deve ser contabilizado de tal forma que os pesquisadores não possam determinar quem os está pagando. Este instituto deve financiar mais de um time para pesquisar uma determinada área, e a verificação dos resultados é um requerimento básico. Todos os times saberão que os seus resultados serão checados por outros grupos.

Na maioria dos casos aqueles que decidem como coletar os dados não farão a coleta, e aqueles que fazem a coleta dos dados não farão a análise. Se começarmos a tratar os registros de temperatura com este rigor então estaremos no bom caminho para determinar exatamente quanta fé nós podemos depositar no aquecimento global, e, consequentemente, com que seriedade devemos tratá-lo.

Eu acredito que, agora que estou chegando ao fim da minha litania, alguns de vocês devem estar dizendo; bem, qual é o grande problema, realmente? Cometemos alguns enganos, alguns cientistas exageraram suas teses e pagaram mico. E daí?

Vou dizer a vocês.

Nos últimos anos muito se falou sobre as alegações pós-modernistas sobre a ciência, de que ela é apenas mais uma forma de exercício do poder, fantasiada em exigências especiais sobre a busca da verdade e objetividade que realmente não tem base nos fatos. A ciência, eles dizem, não é melhor que nenhum outro tipo de empreendimento. Estas ideias deixam muitos cientistas zangados. E elas me deixam zangado. Mas os eventos recentes me levam a imaginar se elas não estão corretas.

Podemos tomar como exemplo a recepção da comunidade científica ao estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg, que escreveu um livro chamado O Ambientalista Cético13.

A resposta da comunidade científica só pode ser descrita como uma desgraça. Na literatura profissional alegou-se que ele não podia tratar deste assunto porque ele não tinha a formação adequada. A editora do seu livro, a Cambridge University Press, foi atacada aos gritos de que o seu editor deveria ser demitido, e que todos os cientistas alinhados com o pensamento correto deveriam boicotá-la. O último presidente da AAAS14 perguntou como a Cambridge University Press pode “publicar um livro que claramente não passaria por um processo de revisão sério” (mas, claro, o manuscrito foi revisado por três cientistas com a formação adequada, em ambos os lados do atlântico, e todos recomendaram a publicação).

Mas o que os cientistas estão fazendo ao atacar uma editora? Este é o novo McCarthysmo, vindo dos cientistas? O pior de tudo foi o comportamento da revista Scientific American, que parece disposta a provar o ponto de vista pós-modernista que tudo é uma questão de poder, e não de fatos.

A revista atacou Lomborg ao longo de onze páginas, no entanto só conseguiu levantar nove erros fatuais, apesar da alegação que o livro estava “crivado de erros relapsos”.

Foi uma péssima apresentação, destacando furiosos ataques pessoais, incluindo compará-lo com as pessoas que negam que o Holocausto tenha ocorrido. O título na capa dizia: “a ciência defende-se contra O Ambientalista Cético”.

Realmente. A ciência precisa se defender? Foi a isto que chegamos? Quando Lomborg pediu espaço para rebater seus críticos, ele recebeu apenas uma página e meia. Quando viu que não era suficiente ele publicou os artigos dos seus críticos na sua página pessoal na Internet, e respondeu a eles em detalhe. A Scientific American ameaçou processá-lo por quebra de direitos autorais, e obrigou-o a remover os artigos da sua página.

Desde então a natureza dos ataques que se seguiram deixa tudo claro: Lomborg está  sendo acusado de heresia. É este o motivo pelo qual nenhum de seus críticos precisa dar substância aos seus ataques. É por isso que os fatos não importam.

É por isso que eles podem atacá-lo violentamente e de forma pessoal. Ele é um herege. É claro que qualquer cientista pode ser acusado da mesma forma que Galileu o foi. O que eu nunca imaginei é que veria a Scientific American no papel do Tribunal da Santa Inquisição.

É nisto que a ciência se tornou? Eu espero que não. Mas é o que ela se tornará, a menos que exista um esforço coordenado e agressivo dos principais cientistas para separar a ciência da política.

O finado Philip Handler, ex-presidente da Academia Nacional de Ciências, disse que “os cientistas servem melhor à política se viverem pela ética da ciência, e não a da política. Se a comunidade científica não extirpar os charlatães, o público não vai conseguir enxergar as diferenças, e a ciência e a nação sofrerão”.

Pessoalmente eu não me preocupo sobre a nação, mas eu me preocupo com a ciência.

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1   Traduzido por J. R. Smolka – sem uso do Google Translator :o). Salvador – BA, 7 de junho de 2011
2   Abreviatura para Search for Extra-Terrestrial Intelligence (busca por inteligência extraterrestre)
3   Rare Earth theory.
4   Abreviatura para Office of Technology Assessment
5   Abreviatura para os sobrenomes dos autores: R.P. Turco, O.B. Toon, T.P. Ackerman, J.B. Pollack e C.E. Sagan
6   As ilustrações citadas não estavam disponíveis para reprodução
7   Abreviatura de Environmental Protection Agency (Agência de Proteção ao Meio Ambiente)
8   Abreviatura de Internal Revenue Service, a “receita federal” do governo dos Estados Unidos
9   Abreviatura de Department of Defense (departamento – ou ministério – da defesa).
10 Abreviatura para lesão por esforço repetitivo
11 Abreviatura de International Panel on Climate Change (painel internacional sobre mudanças climáticas).
12 Exigência que nem o pesquisador nem os pacientes envolvidos em uma pesquisa tenham conhecimento do tratamento que está sendo administrado a cada paciente. O termo técnico em inglês é double-bind experiment.
13 The Skeptical Environmentalist.
14 Abreviatura para American Association for Advancement of Science (sociedade americana para o progresso da ciência).


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