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SINCRONIZAÇÃO EM REDES DE TELECOMUNICAÇÕES (2) |
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Autor: JULIAN ALEXIENCO PORTILLO |
1.1. Multiplexação PDH
Na multiplexação PDH, os espaços de carga previstos nos quadros de 8, 34 e
140 Mbit/s são ligeiramente maiores que o estritamente necessário para
transportar todos os bits da carga plesiócrona a ser mapeada nos mesmos,
ainda quando essa carga está no limite superior admissível de velocidade e o
relógio do multiplex no limite inferior admissível.
Quando a defasagem acumulada alcança um bit, o multiplex deixa de copiar um
bit de informação numa posição específica do quadro multiplexado, ao mesmo
tempo avisando ao demultiplex que esse bit não deve ser
considerado como parte da carga.
Com isso, a defasagem é corrigida, voltando a acumular-se até que seja
necessária a correção seguinte.
Para exemplificar esse processo, podemos examinar um quadro de 8448 kbit/s.
Esse quadro repete-se nominalmente 9962,264 vezes por segundo, e contém 206
bits no espaço de carga reservado para cada tributário (de 2048 kbit/s
nominais).
Ao mapear um tributário em um dos espaços de carga, se fossem usados os 206
bits em todos os quadros seria possível transportar 206 x 9962,264 ~ 2252
kbit/s; se fossem usados só 205 bits de carga em todos os quadros, seria
possível transportar 205 x 9962,264 ~ 2042 kbit/s.
Como a carga tem 2048 kbit/s, cerca de 53% dos quadros transportam 206 bits
e 47% 205 bits.
Pequenas variações nos relógios plesiócronos são acomodadas por uma variação
pequena da taxa de justificação. O processo de justificação da PDH afeta a
estabilidade em curto prazo do relógio do sinal demultiplexado.
Ao receber um quadro de 8 Mbit/s, o demultiplex tem que oscilar no período
de um quadro 205 ou 206 vezes na porta de saída de 2 Mbit/s, segundo tenha
recebido 205 ou 206 bits de informação nesse quadro.
Constantemente, o relógio do sinal demultiplexado está sendo corrigido, ou
seja, contém um certo jitter
(1)
de fase. Com um oscilador que tenha uma constante de tempo grande, é
possível eliminar as componentes de alta freqüência desse jitter, só
restando as de baixa freqüência.
Resumindo, é possível recuperar sem maiores problemas a temporização do
sinal original quando a rede de transporte é PDH, desde que o número de
multiplexações e demultiplexações sucessivas não seja superior a dois, pois
o jitter de baixa freqüência acumula-se e é muito difícil de eliminar.
(1) Jitter é o desvio
de fase/tempo de um sinal digital recebido.
1.2. Multiplexação SDH
As redes de transporte baseadas em SDH apresentam uma problemática bastante
distinta à das redes PDH.
A premissa das redes SDH é de que não será necessário justificar os
tributários dos contêineres virtuais (VC) nas áreas de carga, pois os
tributários devem, em princípio, ser síncronos ao espaço de carga.
Segundo SCHULTZ (2002), a razão de haver feito essa premissa é de que as
redes SDH foram desenvolvidas com o objetivo de construir anéis e
barramentos que permitissem copiar tributários para e desde o sinal de linha
de alta velocidade ao longo do trajeto.
As redes SDH trabalham com muitos multiplexadores de extração e inserção (ADMs)
ao longo das rotas de fibra ou rádio de alta capacidade.
Cada ADM equivale a uma cadeia completa de demultiplexadores e de
multiplexadores.
Em cada ADM, o sinal é demultiplexado virtualmente para permitir o acesso
aos tributários.
Alguns tributários são ponteados, voltando a ser mapeados no quadro Módulo
de Transporte Síncrono (STM-1) que é gerado para diante para seguir um
trecho mais.
Outros tributários são derivados em algum ADM ao longo da rota.
E alguns tributários novos são inseridos nos ADMs ao longo da rota.
Para passar de um sinal STM-1 a outro, os cross-connects realizam a
demultiplexação virtual dos sinais de linha entrantes para mapear seus
tributários nos sinais de linha, gerados localmente.
Em ambos casos, o que se faz é uma espécie de comutação temporal dos sinais
tributários.
Ou seja, em redes SDH o sinal de linha é virtualmente demultiplexado e
multiplexado ao passar por um ADM ou cross-connect. A acumulação do jitter
de baixa freqüência é o que impede a utilização de um processo de
justificação como o adotado na PDH. Se o processo de justificação fosse o
mesmo adotado na PDH, o
número de ADMs e cross-connects dos anéis e barramentos SDH estaria limitado
devido à acumulação desse jitter, e a idéia básica da SDH é justamente
contar com um grande número desses equipamentos ao longo da rota.
Segundo BREGNI (2002), na SDH, portanto, todos os ADMs e cross-connects
devem estar amarrados a uma mesma referência única de relógio.
Desta maneira, não será preciso, em princípio, justificar os tributários,
pois todos estarão sendo criados, pelo menos em teoria, por relógios
sincronizados à mesma velocidade.
Os quadros multiplexados no SDH, no entanto, possuem um método de
justificação, que deve obedecer aos seguintes princípios:
a) se, em algum momento, algum nó perder sua referência de relógio, este
fato não deve afetar a integridade da carga; ou seja, não se admite que
ocorram deslizamentos;
b) mesmo em redes totalmente sincronizadas, há efeitos (que a prática vem
demonstrando serem maiores que os originalmente esperados) que afetam a
sincronização, ou seja, os sinais sempre conterão um certo jitter e wander
(2),
causados, entre outras razões, pelo efeito da temperatura sobre a velocidade
de propagação na fibra óptica. Se houver algum tributário VC cuja velocidade
está momentaneamente distinta à do relógio local, e esse tributário estiver
sendo mapeado em um quadro de linha SDH, o método de justificação permite
que o mesmo passe pela rede sem ter danificado sua informação. Esse método
de justificação vale-se de um espaço extra que cada área de carga possui.
(2) Wander é
um Jitter de baixa freqüência
Para exemplificar, tomemos o caso do contêiner virtual de baixa ordem (VC-12)
da SDH. O VC-12 apresenta 35 bytes a cada 125 microssegundos.
O espaço de carga para ele, chamado TU-12, também tem 35 bytes a cada 125
microssegundos, mais um byte extra a cada 500 microssegundos.
Se o VC-12 a ser mapeado em um TU-12 estiver sendo gerado com um relógio
ligeiramente superior ao da rede (porque, por exemplo, sua fonte perdeu a
referência geral de relógio, ou devido ao valor instantâneo de seu wander),
digamos que 1 x 10-6 mais rápido vai acumular-se uma defasagem positiva na
memória elástica do dispositivo que o está mapeando no quadro gerado
localmente.
Quando a defasagem alcançar 8 bits (o que, em nosso exemplo, ocorreria a
cada 3,6 segundos), o dispositivo que está mapeando o VC-12 recebido na
TU-12 gerada localmente irá enviar o byte extra acumulado no espaço previsto
para esse caso.
Naquele período de 125 microssegundos, serão transmitidos 36 bytes em lugar
dos tradicionais 35 bytes de carga.
Está claro que uma justificação positiva também é possível (isto é,
transmitir 34 em lugar dos tradicionais 35 bytes de carga em um quadro de
125 microssegundos).
Entretanto, os efeitos desta drástica justificação sobre o relógio de carga
recuperada ao final do trajeto são grandes.
O demultiplex precisa corrigir uma defasagem instantânea de 8 bits em um
intervalo curtíssimo, o que causa um violento salto de fase no sinal
transportado no VC-12.
Os fabricantes tratam de contornar esse problema trabalhando com memórias
elásticas que suportam mais de uma única justificação, e com osciladores
estáveis.
Ao vir uma justificação, o demultiplex pode começar a variar o relógio
lentamente para não dar um violento salto de fase, esperando que não venha
outra justificação em seguida.
Mas se vem outra, ele deve compensá-la imediatamente porque a memória
elástica geralmente não pode acumular uma defasagem de mais de 16 bits, e
correria o risco de estourar se viesse outra justificação.
Ao desenvolver a SDH, pensava-se que sincronizando todos os ADMs e
cross-connects não haveria praticamente nenhuma justificação (chamada ajuste
dos ponteiros) na rede, exceto por falhas na rede de distribuição da
referência de sincronização aos nós SDH. A prática, entretanto, demonstrou
que mesmo em redes sincronizadas sempre existem justificações,
principalmente por efeito de wander. O fato de haver justificações faz com
que a carga de 2 Mbit/s transportada na SDH não seja adequada para a
distribuição da temporização.
Ao contrário da PDH, que de certa forma, é transparente a temporização de
uma carga plesiócrona quando se respeitam certos limites, a SDH não o é.
Um equipamento escravizado a um sinal de 2 Mbit/s contido em um VC-12 que
sofreu justificações em seu trajeto pela rede SDH provavelmente se amarraria
a esse sinal enquanto ele se mantivesse estável (relógio, realmente, do
TU-12 gerado pelo último multiplex SDH pelo qual passou), ignorando os
saltos de fase causados pela justificação, e que realmente refletiriam a
temporização real do sinal original.
A SDH apresenta, portanto, dois graves problemas do ponto de vista da
sincronização:
Os elementos de rede SDH (ADMs e cross-connects) devem ser síncronos entre si, isto é, estar amarrados a uma referência única de relógio.
Não é possível utilizar a carga útil transportada pela SDH para transferir temporização.